domingo, 18 de abril de 2010

Alquimia à mesa


Apesar de afirmar sempre que este não é um site de culinária, sempre publico alguma receita. Às vezes porque simplesmente me dá vontade de compartilhar um quitute que preparei, outras vezes porque me perguntam se não vou postar mais receitas.
A proposta aqui é falar sobre os cinco sentidos, mas o paladar tem liderado o ranking de preferência nesse blog.
Já comentei, anteriormente, que a parceria comida e emoção já começa no aleitamento, e que continua à medida em que paladar, olfato e memória vão formando nosso histórico emocional.
Muitas vezes, o prazer da comida vem muito mais do ritual de compartilhamento do que aquilo que se é comido.Esse compartilhar vai desde a escolha dos ingredientes, passando pelo seu preparo, com toda a energia envolvida nesse ato, até o momento da degustação, de preferencia em boa companhia, do alimento preparado. Cozinhar é uma forma de doação, chega a ser um ato sagrado, e pode-se ter certeza de que aquela comida preparada com tanto carinho, vai alimentar o corpo e a alma de quem a recebe. Por essa razão, não é boa ideia cozinhar quando o estado de espírito não for bom... Considero essa a verdadeira alquimia, pois para mim, misturar ingredientes e transforma-los num prato gostoso ,no calor do fogo, e aliado aos toques pessoais de quem mexe com esses ingredientes, é uma verdadeira magia de cura. E reunir as pessoas em volta da mesa para saborear o prato preparado é o grande ato final, o fechamento do ciclo, onde se comunga do mesmo sabor e da mesma energia.
Quem vier à minha casa vai ter a noção exata do que estou falando: assim que passar pela porta, a pessoa vai se sentar à minha mesa e nela irá vivenciar meus aromas e meus temperos misturados ao calor humano e momentos de descontração; não raro presenciará a alquimia da transformação dos alimentos que ocorre nas minhas panelas, enquanto termino de preparar algum prato, em meio a conversas e risos. Com muita frequência, os encontros na minha casa terminam ao som de música cantada e tocada, notas musicais misturadas ao aroma de café e
sabor da sobremesa.

Amigos americanos de meus filhos sabem que jamais pisarão impunemente o solo ítalo-brasileiro lá de casa, sem que o repertório cultural se expanda entre um brigadeiro, um pão de queijo, um churrasco ou uma bela massa, tudo sendo degustado num ambiente tipicamente latino.
Quantas vezes os ensaios do coral da igreja, do qual eu participava, aconteciam muito mais com o intuito de se jogar conversa fora em volta de uma mesa, do que propriamente cantar e tocar.Eram verdadeiras celebrações, repletas de quitutes, cantorias e muito riso.

O escritor Ruben Alves, impressionado com o filme A Festa de Babette, escreveu um texto no jornal Correio Popular, de Campinas(SP), sobre suas impressões e aqui reproduzo um trecho, que traduz exatamente meu pensamento e meu modo de vida:

"Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado. Sabia disso Babette, artista que conhecia os segredos de produzir alegria pela comida. Ela sabia que, depois de comer, as pessoas não permanecem as mesmas. Coisas mágicas acontecem. E desconfiavam disso os endurecidos moradores daquela aldeola, que tinham medo de comer do banquete que Babette lhes preparara. Achavam que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos. Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam. Achavam que Babette iria por suas almas a perder. Não iriam para o céu. De fato, a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos maravilhosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso, in vino veritas... Está tudo no filme A Festa de Babette. Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças... Perceberam, de repente, que o céu não se encontra depois que se morre. Ele acontece em raros momentos de magia e encantamento, quando a máscara-armadura que cobre o nosso rosto cai e nos tornamos crianças de novo. Bom seria se a magia da Festa de Babette pudesse ser repetida..."
Agora, ensino aqui, mais uma prática da minha "stregaria"*


*bruxaria italiana



TORTA de FRANGO
Recheio
_ 2 peitos de frango refogados e desfiados
_ 1 cebola pequena picada
_ 3 dentes de alho amassados
_ 3 colheres(sopa)de óleo vegetal
_ 1/2 xícara (chá) de molho de tomate
_ 1/2 xícara (chá) de água
_ 1 lata de milho cozido
_ 1 lata de ervilhas
_ 2 colheres(sopa) de farinha de trigo
_ 1 colher(sopa) de orégano
_ sal e pimenta a gosto

Numa panela media, refogar a cebola e o alho no óleo. Acrescentar o molho de tomate, o frango desfiado e, em seguida, a água. Deixar cozinhar por alguns instantes e adicionar o orégano, o sal e a pimenta, mexendo sempre.Juntar o milho e as ervilhas, e depois colocar a farinha de trigo, mexendo bem, enquanto a mistura engrossa. Apagar o fogo e reservar.


Massa

_ 3 xícaras (cha) de farinha de trigo
_ 1 xícara (chá) de amido de milho
_ 1 colher (sopa) de fermento em pó
_ 1 colher (chá) de sal
_ 2 ovos
_ 3/4 barra de manteiga ( barra de 100grs)em temperatura ambiente
_ 2/3 xícara (chá) de água morna


Numa tigela grande, misturar bem a farinha, o amido de milho, o fermento em pó e o sal. Adicionar os ovos e misturar com dos dedos. Colocar a manteiga e continuar misturando com os dedos, formando uma espécie de farofa. Juntar a água morna e amassar tudo com as mãos, até se formar uma massa homogênea e que se solte das mãos. Deixar descansar em local fechado por 20 minutos.

Para se fazer duas tortas em formas refratárias ( tipo Marinex 600 ml), dividir a massa em 4 partes e abrir cada uma por vez, com um rolo, colocando a massa entre duas folhas de plástico. Ajeitar a massa no fundo e nos lados da forma, rechear e cobrir com outro pedaço de massa aberta.Fechar a junção das duas partes, pressionando a massa, e depois selando com um garfo. Se sobrar um pouco de massa, enfeitar a superfície da torta e pincelar com gema de ovo.

Levar ao forno medio- alto, pré aquecido, por 30 minutos ou até que a superficie da torta esteja dourada.

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