terça-feira, 27 de abril de 2010

Rainha de Maio e o Bolo de Aveia


Quando retornei ao Brasil, na metade de um fevereiro gelado, deixei Michigan coberto de neve, com o céu cinza e o cenário típico do inverno glacial, com suas árvores sem folhas, sem flores, sem verde.
Agora, ao retornar ao meu lar americano, faltando poucos dias para o início de Maio, vejo um cenário muito diferente: grama verde por todos os lados, árvores revestindo-se com novas folhagens e uma explosão de cores nas primeiras flores, que nascem ainda na baixa temperatura, anunciando a chegada da Primavera, com dias mais ensolarados e quentes. Não posso deixar de citar que meus "inquilinos", uns animais silvestres que elegeram o subsolo de minha varanda como moradia,voltam a me visitar, comendo minhas tulipas, e devassando meu jardim, como se quisessem deixar bem claro que eles chegaram aqui primeiro.
Nessa época, sempre tenho uma forte sensação de que a Terra despertou de um longo sono, e aos poucos, retoma seus afazeres. Perséfone retorna do mundo subterrâneo e vem passar uma temporada com a exultante mãe Deméter, que se alegra novamente e retoma seus cuidados com as sementes que germinam e com as plantas que crescem e dão frutos. Aqui, com as estações bem definidas, esse mito faz muito sentido.
Se eu precisasse escolher uma única palavra para descrever essa época do ano, ou essa estação, eu escolheria a palavra Festa. Pois, para mim, é como se a Natureza estivesse em festa.
Maio, no Brasil, por outro lado, é auge do Outono, com a temperatura mais amena e as chuvas de verão substituídas por nevoeiros e geadas. É a despedida dos meses quentes e a chegada dos meses "frios". Teoricamente, no Brasil, Perséfone se despede da desolada mãe Deméter e se prepara para voltar ao mundo subterrâneo e seu marido Hades. Talvez, pelo fato de termos, no Brasil, vegetação verde e plantio durante todo o ano, o mito de Deméter e Perséfone faça mais sentido se olharmos para cada ciclo das diferentes vegetações que crescem em diferentes partes do país. A época do ano para a semeadura, germinação, floração, frutificação e colheita varia nas espécies de plantas, que estão sujeitas à variação de temperatura, posição solar, etc.


Voltando à Primavera daqui, no hemisfério norte, as pessoas passam a ter um ânimo renovado,voltam a sair de dentro de casa para cuidar do jardim, conversar com os vizinhos, andar de bicicleta, de patins... Realmente, o clima é de festa, depois de terem atravessado um longo inverno.



Nas antigas tradições Celtas, que eram pagãs, no auge da Primavera, entre o último dia de Abril e o primeiro dia de Maio, era celebrado um festival que marcava o nascimento do Verão e a morte do Inverno. Era o festival de Beltane, que simbolizava a união das energias masculinas (Deus Verde da Vegetação) e femininas ( Rainha de Maio, ou Donzela da Terra), num "casamento cósmico", portanto, uma celebração da Fertilidade (a palavra "fertilidade" se aplicava também para o êxito na lavoura e na criação de animais). Sendo a religião dos povos celtas um culto à Naureza, Beltane era um festival destinado a comemorar, justamente, a época em que o Sol, se aproximando da Terra, traz o calor necessário para fertilizar as plantas e as sementes; e os animais, recem saidos de um período de hibernação, começam a acasalar. Obviamente, o ritual de fertilidade tinha um forte cunho sensual, onde amor e sexo eram celebrados livremente.






Beltane era comemorado com danças e banquetes, nos quais eram servidos bolos redondos de aveia e repartidos entre os participantes da celebração. Antes de servirem o bolo, escurecia-se uma pequena parte do bolo com carvão, e quem fosse sorteado com o pedaço escurecido era submetido a trotes. Hoje, na adaptada Festa da Primavera, os pedaços de bolo são atirados à fogueira com fins adivinhatorios e pedidos de proteção ( alem de serem saboreados, claro).
Os participantes confeccionavam guirlandas de flores, que significavam o ciclo da vida e colocavam-nas em suas cabeças,ou nas portas de suas casas. Também faziam máscaras com folhas para representar o Senhor da Vegetação Verde(Green Man).
Era costume fazer uma enorme fogueira (fogueira de Beltane) e pular essa fogueira para se livrar de doenças e energias negativas, assegurar bons partos e pedir as bençãos dos deuses da fertilidade.
Um dos símbolos mais conhecidos, associado com esses festivais, é o Mastro de Beltane ou Maypole (Mastro de Maio). Feito do tronco de uma árvore forte e alta,era enfeitado com flores e tiras de fitas. Seu simbolismo era fálico em honra da fertilidade renovada da Terra. Todos dançavam em volta do mastro, trançando as fitas, cujo simbolismo era trançar a própria vida, o próprio destino.


Beltane é um dos poucos festivais pagãos que sobreviveram da época pré-cristã até os dias de hoje, pois agora é chamado de Festa da Primavera ou May Day e foi adaptado ao cristianismo. É comemorado principalmente nos paises da Europa, onde ainda se mantêm tradições como a dança das fitas ao redor do mastro (Maypole), a coroação da Rainha da Primavera,e enfeitar-se com guirlanda de flores.Muita coisa sobreviveu em forma de folclore e foi sendo passado de geração em geração. As Festas Juninas, trazidas pela cultura cristã europeia, carregam muitos elementos de Beltane, tais como pular fogueira, pisar em brasas com os pés descalços, trançar o mastro com fitas coloridas, dançar quadrilha, celebrar o "casamento na roça". Mas, se por um lado, as festas juninas trazem tradições da celebração da Primavera, no Brasil, as festas juninas são festas da colheita, pois acontece na transição do Outono para o Inverno.
Mas falar sobre as festas da colheita, já é assunto para outra postagem....


BOLO de AVEIA e NOZES
Numa vasilha misturar
-1 1/2 xícara (chá) de aveia -flocos finos
-1 xícara (chá) de água fervendo
1/2 xícara (chá) de manteiga ou margarina em temperatura ambiente
-1 colher (sopa) de gengibre fresco ralado
-1 colher (chá) de canela em pó
-1 colher (café) de cravo em pó
Mexer bem os ingredientes, formando uma espécie de angú. Reservar.
À parte, na batedeira, misturar:
-2 ovos
-1 xícara (chá) de açúcar branco
-1 xícara (chá) de açúcar mascavo
Juntar o angú de aveia com a mistura da batedeira e adicionar:
-1 xícara (chá) de farinha de trigo
-1/2 xícara (chá) de nozes picadas
-1 colher (chá) de bicarbonato de sodio
-1 colher (sopa) rasa de fermento em pó
Misturar os ingredientes adicionados e levar para assar numa forma redonda, untada com margarina e farinha, em forno pré aquecido médio- alto, por cerca de 40 minutos, ou até que espetando um palito, este saia seco. Decorar com flocos de aveia e nozes.


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