terça-feira, 29 de setembro de 2009

Samba do Café


Samba do Café
Vinicius de Moraes

Para fazer um bom café, meu bem
Como se faz, lá no Brasil
Precisa pôr tudo a ferver, meu bem
Como se põe, lá no Brasil

Uma frutinha vermelha
Que as moças colhem no pé
E quando é bem torradinho
Fica pretinho e cheiroso
Como ele é, lá no Brasil
Como ele é, lá no Brasil

Para fazer um bom café, meu bem
Como se faz, lá no Brasil
Precisa ter um bom café, também
Como se tem, lá no Brasil
Tem de ser forte, como o bem
Que a gente tem pelo Brasil
Tem de ser doce, como o amor
Que a gente tem pelo Brasil

Você, seu moço estrangeiro
Só põe açúcar se quer
Mas sendo um bom brasileiro
O seu café vai ser doce
Como se fosse um carinho
O seu café vai ser doce
Como se fosse um beijinho
De uma mulher
Que faz um bom café
Lá no Brasil!
Lá no Brasil!


Certos aromas ficam registrados para sempre na nossa memória, associados a um acontecimento ou a uma pessoa. A indústria de perfumaria explora muito bem esse fato e o resultado é uma infinidade de perfumes no mercado, todos prometendo tornar marcante a presença de quem os usa.
O mesmo ocorre com alimentos e bebidas, sempre associados a momentos de degustação, carregando sensações que vão muito além do paladar e do olfato.

Para mim, como para muita gente , o café carrega toda essa carga emocional- tanto no seu aroma quanto no seu sabor, oferecendo numa xícara sensação de bem estar, de conforto, energia... E me traz em cada gole o gosto da minha pátria, de minha família, de meus amigos. De conversas animadas ao redor da mesa. Tomo café e me transporto a um mundo singular, feito de lembranças, de cheiros, de sabores, de saudades, mas tambem cheio de imagens do presente e da sensação de "lar doce lar".
O café está fortemente inserido na cultura brasileira, sendo elemento agregador e símbolo de hospitalidade e tradição. Não existe visita sem cafezinho, servido em demi-tasses ( xícaras pequenas para café) e geralmente adoçado, aquecendo o assunto conversado. Também é sempre convite ou promessa de novo encontro na frase "vamos tomar um cafezinho", e sempre ritual obrigatório em reuniões de familia e amigos.

Bebida produzida a partir dos grãos torrados do fruto do cafeeiro, o café é uma bebida estimulante e tradicionalmente servida quente. Com características marcantes, o café possui uma série de fatores que se destacam no paladar dos amantes da bebida: a doçura, o amargor, acidez, corpo e aroma.

O café melhora a vitalidade, memória, atenção e a produtividade.A cafeína é um auxiliar no tratamento de doenças como o mal de Alzheimer.
A ABIC tem um site interessante ( www.abic.com.br ), onde se pode encontrar a historia do café, características, plantio, receitas e artigos sobre o café e a saúde.

E acrescento uma receita de biscoitos com o café fazendo parte dos ingredientes, faceis de fazer, que são um mimo a mais para esse momento tão especial de cada dia, que é a hora do cafezinho.


Biscoitos de Café e Castanhas Moidas

3 colheres (sopa) de café bem forte morno -jamais quente
1 xícara (chá) de amêndoas ou nozes moidas no multiprocessador
2 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 colher (chá) de bicarbonato de sódio
1 xícara (chá) de açúcar
1 barra de manteiga ( 100 gramas ) em temperatura ambiente
1 gema


Bater bem a margarina, o açúcar e a gema até obter um creme. Acrescentar o café, as castanhas moidas, o bicarbonato de sódio e continuar batendo . Acrescentar a farinha e amassar até soltar das mãos. Embrulhar a massa em filme plástico e levar à geladeira por 1 hora*. Abrir a massa entre duas folhas de plástico, cortar os biscoitos no formato desejado com cerca de 5 mm de espessura. Colocar em forma rasa ou propria para biscoitos, untada e forrada com papel manteiga**. Assar em forno pré aquecido a 180°C por mais ou menos 10 minutos ou até dourar nas laterais. Retirar da forma cuidadosamente com uma espátula e deixar esfriar ( de preferência sobre uma grade) antes de guardar ou servir.
* Se não utilizar de uma só vez toda a massa, manter na geladeira enquanto aguarda para ser aberta.
**Caso não utilize papel manteiga, untar a forma muito bem com margarina e polvilhar farinha de trigo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sabor de Outono





Aqui no hemisfério norte já se inicia o outono. Em Michigan é uma época muito celebrada, pois é tempo de colheita. É época dos festivais da maçã e da abóbora.


Em lugares cujo inverno é muito frio, com a presença de neve por um período de tempo, a semeagem e cultivo de plantações, respectivamente, só ocorrem na primavera e verão, sendo nos meses do outono o auge da colheita e, por consequencia, a estocagem de alimentos. Hoje em dia, com toda a tecnologia e globalização, tem-se ascesso a qualquer tipo de alimento durante todo o ano, mas não foi sempre assim.

Conversando com pessoas mais velhas, ouve-se historias de como era difícil atravessar todo o inverno com a variedade limitada de alimentos e as formas mais comuns de preservá-los. Então, lembrado os milhões de anos da humanidade, a "independência" adquirida das estações do ano é coisa muito recente.


Nas terras mais ao norte, também , a paisagem muda de coloração, com as folhas das árvores variando em tons de vermelho, amarelo e alaranjado, uma verdadeira festa de cores. Mas é uma festa de despedida, pois logo essas folhas cairão todas, anunciando a chegada do inverno gélido.


Como imagem simbolizando essa época, existe o mito de Deméter e Perséfone. A Mitologia Grega conta que do romance entre Deméter ( mãe terra que cuida das plantas) e Zeus ( deus do Olimpo ) nasceu Core , que se tornou uma linda jovem. Hades ( deus do mundo subterrâneo), ao ve-la, apaixonou-se e decidiu raptá-la. Deméter ficou inconsolável e se descuidou de seus deveres , deixando as terras estéreis e com isso houve escassez de alimentos.

Zeus ordenou a Hades que devolvesse sua filha, mas Core já estava casada com ele . Core acabou comendo algumas sementes de romã , oferecidas pelo marido, e com isso, se ligou ao mundo subterrâneo eternamente, tornando-se Perséfone ( rainha dos mortos) . Assim, estabeleceu-se um acordo: a cada primavera, Perséfone deixava Hades e se reunia com a mãe, no Olimpo, para que nessa época a terra cultivada desse seus frutos. Ela ,no outono, voltava para Hades e permanecia com ele até a primavera seguinte. Esse mito simboliza o ciclo anual das colheitas.


Na Antiguidade o mito era uma parábola para um dos mistérios de Elêusis (ritos de iniciação ao culto das deusas agrícolas Deméter e Perséfone) . Perséfone seria o grão semeado, colocado embaixo da terra para se desenvolver e despontar durante a primavera sob a forma de novos frutos. Mas o mito também carrega a simbologia da história da alma, de sua descida na matéria, de seus sofrimentos nas trevas do esquecimento e depois sua re-ascensão e volta à vida divina.



Escolhi uma receita com sabor de outono, época de abóboras enfeitando soleiras de porta, centros de mesa e servindo de ingrediente para doces e salgados.

Rocambole de Abóbora com Especiarias e Cream Cheese


Massa


1 de xícara (chá) de farinha de trigo

1 colher (chá) de fermento em pó

1 colher(chá) de bicarbonato de sódio

1 colher (chá) de canela em pó

1 colher (chá) de cravos da índia moidos

1 colher(chá) de noz moscada ralada

1/4 colher(chá) de sal

3 ovos grandes

1 xícara ( chá) de açúcar

1 xícara (chá) de purê de abóbora cozida

1 colher (chá) de suco de limão


Recheio


1 embalagem de queijo cremoso* ( cream cheese) em temperatura ambiente

1 xícara de açúcar de confeiteiro

4 colheres (sopa) de manteiga ou margarina* em temperatura ambiente

1 colher ( chá) de extrato de baunilha


*pode ser a versão light
Cobertura

Açúcar de confeiteiro para polvilhar



Pré aqueça o forno em temperatura média alta, e unte uma forma retangular de 38x25 cm , aproximadamente, com margarina e farinha. Umideça um pano limpo e polvilhe com açúcar de confeiteiro. Reserve.

Numa vasilha pequena misture a farinha, fermento em pó, bicarbonato de sódio, canela em pó , cravos moidos, noz moscada e o sal. Reserve.

Na batedeira, misture os ovos e o açúcar e bata até ficar cremoso. Junte o purê de abóbora e o suco de limão e continue batendo. Adicione a mistura de ingredientes secos e misture bem.

Espalhe a mistura na forma já untada e leve ao forno por aproximadamente 13 minutos, ou até que perfurando com um palito, este saia seco.

Imediatamente vire o bolo sobre o pano úmido e polvilhado com açúcar e enrole pano e bolo juntos. Deixe esfriar.

À parte, bata o queijo cremoso com o açúcar de confeiteiro, a manteiga e a baunilha, até obter um creme macio.

Com cuidado desenrole o rocambole e remova o pano. Espalhe a mistura do queijo cremoso e torne a enrolar. Envolva em filme plástico e leve à geladeira por 1 hora.

Sirva polvilhado com açúcar de confeiteiro, se desejar.

Dá 10 porções.



quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Alma da Música






Sempre se ouve dizer que a música é o alimento da alma, mas poucas vezes se pensa que a música tem uma alma. Que tem memória quando nos traz lembranças ligadas a determinada canção, que tem o dom de curar, quando o terapeuta sabe usar seus elementos como harmonia , rítmo e ressonância.
A música festeja as alegrias da vida com seus acordes de terça maior, mas também sabe como expressar a tristeza nas suas terças menores. Encanta no compasso ternário de uma valsa, mas a qualquer momento pode mudar para uma salsa apimentada de compasso quaternário. É verdade que entoa seus hinos e suas marchas em binários, porque sempre há o lado mais circunspecto da vida. Mas passado o rigor do momento, acelera o binário num alegretto , saltita numa polca e vibra num samba entre síncopes e contratempos.
Segundo Wikipedia, a música é uma sucessão de sons e silêncios alternados, organizados no tempo. E sua historia se confunde com a historia do desenvolvimento da inteligência e da cultura humana.

As antigas tradições ensinavam sobre o Sons Sagrados, e esses ensinamentos continham o conhecimento de que o Rítmo tinha poder de provocar mudanças no organismo físico, a Melodia teria influência nos estados mentais e psíquicos e a Harmonia facilitaria o entendimento humano das questões espirituais.
Pitágoras compunha e tocava para seus discípulos a sua lira de sete cordas. E os mesmos recebiam treinamento especial para usá-la de modo a contornar sentimentos como a angústia, a raiva, o ciúme, anseios, a preguiça e a impetuosidade. A música era também uma terapia aplicada para a cura de males físicos.
Pitágoras, que foi um filósofo e matemático grego ( nasceu no ano 570 a.c. e morreu no ano 497 a.c.), descobriu que os intervalos musicais se expressam através de proporções aritméticas. Ele e seus seguidores teriam descoberto a relação numérica entre o comprimento das cordas e as notas musicais por elas produzidas quando vibram, e desse modo foi criada a oitava na escala musical que agora conhecemos.
Para os pitagóricos, que explicavam o Universo por expressões numéricas, a música era um símbolo de harmonia do Cosmo e, ao mesmo tempo, um meio de o homem alcançar o equilíbrio interno.
E para dar outra dimensão a esse pensamento metafísico, acrescento que pode-se fazer uma correlação entre os 4 elementos ( Água, Terra, Fogo e Ar ) e instrumentos musicais. Antecipo que existe uma certa divergência entre linhas filosófico-esotéricas quanto à correspondência de determinado instrumento ao seu elemento . Então eu sigo a classificação que para mim faz mais sentido:
Elementos - Instrumentos
Terra..... Percussão
Fogo.........Cordas

Água. .....Teclados e Metais
Ar...........Sopro

Termino com um comentário de Marcelo Gleiser, que é físico, astrônomo, professor, escritor e roteirista:
"A música, dentre as artes, é a mais misteriosa. Como podem os sons invocar emoções tão fortes, alegrias e tristezas, lembranças de momentos especiais ou dolorosos, paixões passadas e esperanças futuras, patriotismo, ódio, ternura? Quando se pensa que sons nada mais são que vibrações que se propagam pelo ar, o mistério aumenta ainda mais..."

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Divindade em Nós




Sempre gostei muito de danças, de ver corpos em movimento, seguindo ritmos e melodias, e de sentir meu próprio corpo desenhando formas no ar, de sentir a música nas minhas entranhas e nela expressar meu estado d'alma. Mas foi assistindo a uma amiga numa pequena mostra de dança do ventre é que compreendi a divindade que existe em nós. Isso aconteceu muito, muito antes da febre dessa dança ter assolado o Brasil , depois da novela O Clone. Muito, muito antes de Shakiras e afins tomarem conta da midia.

Foi num curso sobre os Sete Metais e os Sete Planetas, durante minha formação como terapeuta antroposófica - quem quiser saber sobre Antroposofia o site http://sab.org.br/antrop/antrop.htm explica muito bem sobre o assunto. E já aviso que dança do ventre definitivamente não faz parte do vocabulário de antropósofos tradicionais.
Mas foi justamente numa dessas noites em que o pessoal do curso se reunia depois do jantar para conversar, cantar, tocar instrumentos musicais, enfim, fazer atividades que normalmente a televisão e o computador se incubem de deletar (opa!) de nosso dia a dia , que a minha amiga resolveu mostrar que sabe dançar.

Certamente voces ja presumem que num curso desses a sensibilidade fica mais aguçada. Então imagine o momento em que entra Judith no grande salão, vestida num traje vermelho esvoaçante e dançando ao som de uma música árabe. Depois de passada a surpresa inicial, deixei-me hipnotizar pelos seus movimentos ondulatórios, os quadris marcando o ritmo do Derback numa sucessão de "número oitos" ( lemniscatas ), o ventre desenhando movimentos de serpente e os braços envolvendo um véu. Foi nesse momento que vi não mais minha amiga dançando, mas uma divindade se manifestando para quem estava presente.

Nunca esqueci aquela cena e os sentimentos que me despertaram. A partir daquele momento, eu resolvi que faria aflorar a minha divindade interior, e fui tomar aulas, primeiro de dança do ventre, tempos depois de flamenco, anos mais tarde de dança celta irlandesa. Descobri que , por algum mistério , as danças ao redor do mundo tem movimentos em comum, desenhos com o mesmo significado, realizados de formas diferentes, dependendo da cultura que a originou . Por exemplo o "oito" está presente em todas as danças, e na dança do ventre ele é desenhado com os quadris ou em movimentos com o véu . Ja na dança celta, o corpo fica ereto, e as pernas e, por vezes, os braços desenham esse número em coreografias no espaço. O "oito" (ou lemniscata) está associado ao infinito porque ele não tem começo ou fim mas configura-se numa forma contínua e ininterrupta. Esse significado simbólico do oito o liga ao Arquétipo do Self, que segundo o psicólogo suiço Carl Jung expressa a totalidade, o universo, a plenitude, a comunhão da consciência com o inconsciente, o encontro do humano com o divino. Interessante, não!

É muito provavel que a dança tenha sido a primeira forma que o ser humano encontrou para expressar esteticamente o que conhecia do fluxo da vida e seus mistérios, de modo que as danças eram sagradas para os povos primitivos. Dançar era um modo de se conectar com o Divino.
Hoje, nota-se uma procura muito grande por danças como a do ventre, flamenco, cigana, tribais, ou até mesmo workshops sobre danças circulares sagradas . Talvez tenhamos chegado num ponto da Historia em que a nossa desconexão com a Natureza e com o Sagrado seja tão grande, que dentro de cada um de nós tenha nascido a necessidade de se voltar às raizes, de buscar sentido à nossa existência, e em meio a tantos caminhos como as religiões, estilo de vida, conscientização sobre o futuro do Planeta, a dança seja uma expressão desse nosso retorno às origens.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...