sábado, 3 de dezembro de 2011

Vertumno e Pomona, Torta de Maçãs


"Jardins e frutos eram toda a sua preocupação, nenhuma outra
Tinha sido tão diligente e habilidosa para cuidar deles. Florestas e rios
Nada significavam para ela, somente os campos, os ramos
Que sustentavam os frutos. Ela não usava uma lâmina qualquer
Mas uma ferramenta especial para podar os galhos
Quando eles cresciam demais, ou fazer delicadas incisões
Para que os galhos enxertados se desenvolvessem e crescessem.
Não deixava que as plantas ficassem sedentas: a água corrente
Estava sempre umedecendo as raízes.
Tudo isso era o amor e a paixão de Pomona."

( trecho extraido do poema Vertumno e Pomona, em Metamorfoses, de Ovidio - Ed. Madras )

Assim  Publius Ovidius Naso - conhecido como Ovidio, poeta romano que nasceu no ano 43 a.C e faleceu no ano 17 d.C,  inicia o poema "Vertumno e Pomona", que narra o mito da inatingível ninfa Pomona, guardiã das árvores frutíferas e do deus romano que presidia as estações do ano e a maturidade das frutas e dos legumes, Vertumno. Embora fosse muito bela e tivesse vários pretendentes entre pãs, faunos, sátiros, deuses e semideuses, não permitia a aproximação de nenhum deles e vivia isolada cuidando de seus jardins e pomares. Vertumno era o mais apaixonado e vivia arrumando disfarces ou mudando sua forma ( sim, ele tinha esses poderes ) para aproximar-se de Pomona e contemplar sua beleza de perto. Até que certa vez disfarçando-se de mulher velha  entrou num dos pomares de Pomona, com a desculpa de apreciar de perto os lindos frutos, e beijando-a ao cumprimentá-la, beijou-a de um jeito muito diferente do que uma velha beijaria uma jovem. E  sentando-se, observou uma parreira carregada de belas uvas que se enroscava num olmeiro, então disse:
                                        "Ah, se aquela árvore ficasse ali sozinha, sem companhia,
                                         Sem sua parreira, suas folhas seriam a única
                                         Razão para olhá-la, e a parreira,
                                         Descasada do olmo onde se pendura
                                         Ficaria arrastando-se no chão empoeirado!
                                         Você imita o exemplo da parreira.
                                         Não quer se casar, juntar-se a outra pessoa." *


Vertumno, disfarçado de velha, prosseguiu com seu argumento, aconselhando Pomona a ignorar os demais pretendentes e escolher ele mesmo para marido.

                 "E outra coisa a respeito dele:
                  É diferente do resto, não se apaixona
                  Por qualquer mulher que vê. Não é volúvel.
                  Você será seu primeiro, último e único amor
                  Durante toda a sua vida. E ele é jovem, atraente,
                  Consegue mudar de aparência à vontade, será sempre
                  O que você desejar que ele seja, não importa as ordens
                  Que escolha lhe dar. E ele ama as coisas
                  Que você ama: é sempre o primeiro a tratar com carinho
                  Das maçãs que você adora, e enche suas mãos de presentes. Mas o que realmente cobiça
                  Não são as frutas de suas árvores, nem as mais doces ervas
                  Que seu jardim produz, e sim você apenas. Tenha piedade!" *

* Trechos extraidos do poema Vertumno e Pomona, em Metamorfoses, de Ovidio - Ed. Madras

E contou o caso do jovem Ífis, que apaixonado pela princesa Anaxarete, em vão tentava conquistar a amada, recebendo em troca apenas desprezo e humilhação. Não tendo o moço suportado tanta dor, enforcou-se. No momento em que Anaxarete, por acaso, viu o cortejo do enterro passar e constatou que se tratava de Ífis, sentiu seu sangue gelar e não conseguiu mais se mover, pois seu coração de pedra tinha tomado todo o seu corpo, transformando-a em estátua de mámore.



Mas nada do que fora dito surtiu efeito sobre Pomona, e Vertumno, então, resolveu tirar o disfarce, revelando-se. Foi quando a ninfa, encantanda com a beleza daquele deus, apaixonou-se e passou a corresponder aos sentimentos de Vertumno com o mesmo ardor.



Pomona era considerada também uma deusa romana ( Mitologia Romana ) e não tinha correspondente na Mitologia Grega. Diferente de outras divindades da agricultura, ela não era associada à colheita, mas sim com o florescimento dos frutos. Seu nome vem justamente do latim "pomum", que significa "fruto". Talvez por causa da passagem do poema de Ovidio que diz: "E ele ama as coisas que você ama: é sempre o primeiro a tratar com carinho das maçãs que você adora..." as maçãs sejam associadas à Pomona. Não por acaso, na lingua francesa maçã é "pomme", cuja raiz "pom"  da palavra remonta à deusa romana.

Vertumno, era inicialmente uma divindade da civilização etrusca, que ficava no norte da Península Itálica (Italia), civilização essa de origem desconhecida, e que acabou por se integrar de tal forma ao Imperio Romano , que teve sua cultura diluida no mesmo. Vertumno, assim como muitas divindades etruscas, foi adaptado à Mitologia Romana.
Pomona é guardiã dos frutos que nascem e Vertumno rege a maturidade desses frutos, formando juntos o ciclo do desabrochar, crescer e envelhecer eternos, ao rítmo das estações do ano.

E já que a maçã é tão associada à Pomona, e é um dos símbolos do amor e da vida eterna na nossa cultura ocidental , fecho essa postagem com uma receita de torta de maçãs típica americana, daquelas que vemos em filmes e desenhos animados. Pensando também no Natal que se aproxima, pode ser uma boa opção para servir na Ceia.
Torta de Maçãs 

Massa
-200gr de manteiga sem sal gelada, cortada em pedacinhos
-1 colher (chá) de açúcar
-1/2 colher (chá) de sal
-2 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo
-1/2 xícara (chá) de água gelada

-1 ovo batido para pincelar sobre a massa
-açúcar para polvilhar

Recheio
-8 maçãs medias/grandes, descascadas e cortadas em gomos finos ( use 2 qualidades diferentes de maçãs , eu usei a Granny Smith e a Gala )
-3/4 xícara (chá) de açúcar
-suco e raspas de 2 limões pequenos
-1 1/2 colher (chá) de canela em pó
-1/2 colher (chá) de noz moscada
-1/2 colher (chá) cravo moído
-2 colheres (sopa) de farinha de trigo

Prepare a massa, misturando os ingredientes secos com a manteiga picada num multiprocessador, pulsando por uns 10 segundos, formando uma farofa grossa. Adicione a água gelada bem aos poucos, entre uma pulsada e outra. Não ultrapasse 30 segundos  de pulsos no total. A massa não pode ficar grudenta. Para quem é craque em tortas, nem precisa misturar no multiprocessador, pode amassar com as mãos. 
Vire a massa sobre uma superficie, trabalhe rapidamente para deixá-la um pouco homogênea ou menos esfarelenta, mas não mexa muito. Divida a massa em duas partes e enrole cada uma em  filme plástico. Leve à geladeira por pelo menos 30 minutos.


 
Descasque e corte as maçãs e coloque numa tigela. Adicione açúcar, canela em pó, noz moscada e cravo moído. Misture bem. Junte, então, o suco e as raspas de limão, misture, e por último, adicione as duas colheres de farinha de trigo, misturando bem, envolvendo todos os pedaços das maçãs. Reserve.


Pré aqueça o forno a 190 graus ( 375 F) ou médio alto. Abra cada parte da massa entre dois pedaços de filme plástico ou saco plástico aberto, estique o suficiente para forrar uma forma de torta ou refratário de 23cm ou 9 inches. Com o auxilio do filme plástico,vire uma parte da massa na forma, forre, arrumando com os dedos. Coloque as maçãs reservadas em colhereadas (vai formar um monte alto de fatias) e cubra com a outra parte da massa aberta, usando a mesma tecnica. Ajeite as bordas, apertando uma contra a outra e fechando a torta. Pressione um garfo em toda a volta da torta. Faça cortes sobre o topo, pincele com o ovo batido e polvilhe com o açúcar.


Leve ao forno entre 45 minutos ou 1 hora, depende do forno, ou até que a massa esteja dourada e o recheio esteja borbulhando. Deixe amornar ou esfriar antes de servir. Pode ser servida pura ou acompanhada de chantilí ou sorvete de creme. Se esperar o dia seguinte para servir, a torta fica ainda mais saborosa. Nesse caso,  manter na geladeira e aquecer em forno medio, coberta com papel aluminio antes de servir.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Festas Juninas ou Festas Joaninas

Na Noite Antiga...

“Aqui
Na noite antiga de garoa e frio fino,
Subiam balões de luz
Em honra do primo de Jesus,
São João Menino.

E, em nosso coração,
Cada balão,
Subindo rápido e em linha reta,
Era o próprio João Menino
Se transformando em João Profeta.

Era o profeta
Que parecia o clarão da madrugada,
Antecedendo a chegada
Do grande sol nascente, da maior luz:
O Cristo Jesus.”

( Ruth Salles)

Q



Das tradições mais bonitas  e expressivas da cultura brasileira as Festas Juninas são, sem dúvida, as mais aguardadas e comemoradas pela população. Podem ser festejadas nas ruas ou em escolas e clubes, sempre reunindo a comunidade  para saborear as comidas típicas e tomar quentão, dançar quadrilhas, pular fogueria e soltar rojões e fogos de artifícios. Antigamente soltava-se balões coloridos que pareciam subir até o céu, mas que infelizmente, ao caír, muitas vezes provocavam incendios e, por essa razão, acabaram por ser proibidos.

As Festas Juninas têm sua origem nos festejos pagãos que celebravam, desde os primordios da humanidade, o Solstício de Verão, que ocorre no Hemisfério Norte por volta do dia 21 de junho.
Na antiguidade, o Solstício de Verão - o dia mais longo do ano- era comemorado como o dia da energia máxima do Sol, e portanto, o auge da fertilidade da Natureza, e nos festejos ofereciam-se comidas, bebidas e animais aos deuses e pedia-se aos céus uma boa colheita.  Fazia-se enormes fogueiras, que simbolizavam a Luz e as pessoas dançavam em volta, para comemorar a alegria que essa Luz trazia ao mundo e para espantar os maus espíritos.
Na Roma antiga, havia também nessa época os festejos em homenagem à deusa Juno, protetora dos casamentos e dos nascimentos, e por isso eram chamadas de festas Junônias. Juno é a deusa correspondente à deusa grega Hera.
Com a  cristianização da Europa, a festa pagã foi adaptada para homenagear São João Batista, cujo nascimento seria no dia 24 de junho (próximo ao dia do Solstício de Verão), razão pela qual as festas eram  chamadas de Joaninas. São João era o profeta que anunciava a chegada da Luz, o Cristo encarnado, e naturalmente foi associado com a fogueira, tradição mantida até nos dias de hoje, quando se faz a fogueira de São João durante as festas.
Em Portugal, os festejos eram estendidos aos santos de mês de junho, principlamente Santo Antonio no dia 13 e São Pedro no dia 29, além da festa de São João do dia 24. E foi justamente essa tradição de homenagear aos santos do mês de junho, trazida na época da colonização pelos jesuitas portugueses e a junção de costumes e cultura da terra, é que deu origem as Festas Juninas brasileiras.

Embora no Brasil essa época marque o início do inverno ( em torno do dia 21 de junho, ocorre o Solstício de Inverno no Hemisfério Sul ) ela coincide com o tempo da colheita e da preparação da terra para novos plantios. Houve então, a junção de tradições da colheita e da vida na roça aos festejos dos santos juninos. Mas também existem elementos emprestados de outras culturas, como a quadrilha, de origem francesa, e os fogos de artifício, dos chineses.


Sendo o Brasil um país muito grande, rico em tradições resultantes da mistura de raças e resultante da mescla de culturas de imigrantes, que  variam conforme a região do país, as Festas Juninas acabaram por ganhar características particulares a cada região. Mas em todas encontramos a quadrilha precedida por um casamento caipira, participantes das festas vestidos de matuto, os homens com camisa quadriculada, calça remendada com panos coloridos, e chapéu de palha, e as mulheres com vestido colorido de chita e chapéu de palha. E, claro, o local da festa sempre decorado com bandeirinhas coloridas, lanternas e balões.


A quadrilha é uma "metamorfose" de uma dança francesa  de salão chamada "quadrille", que chegou no Brasil no século XIX, inicialmente popular na elite, mas que caiu no gosto popular, principalmente na comunidade rural e sofreu várias modificações, tornando-se uma dança típica dos festejos juninos.

Muitos termos usados pelo marcador de quadrilha, que anuncia os passos, são palavras vindas do francês, tais como:
Anavantú (en avant tous)- todos os casais vão para a frente
Anarriê (en arrière) - casais vão para trás
Changê (changer/changez) - trocar/troquem o par
Cumprimento 'vis-à-vis' - cumprimento frente a frente
Otrefoá (autre fois) - repete o passo anterior
Balancê (balancer)-balançar o corpo no rítmo da música, marcando o passo, sem sair do lugar
Returnê ( returner)- voltar a seus lugares
  
Quem já não dançou quadrilha alguma vez na vida? Se a resposta for não, aconselho que vá, que ainda dá tempo, pois não sabe o que está perdendo.... Decidi adicionar esse video abaixo para dar água na boca.




Hoje ao invés de receitas de quitutes, que existem aos milhares e maravilhosas, contribuo com um passo a passo para a confecção de lanternas coloridas, que são lindas alternativas para os proibitivos balões. Então voilá:

Lanternas para Festa Junina
Material

-Copos de geleia ou de molho de tomate, ou ainda vidros de palmito ou outra conserva
-Papeis Color Set
-Folhas de Papel de Seda
-Tesoura
-Fita adesiva transparente ( tipo durex)
-Regua
-Lápis
-Velas pequenas de 3 a 4 cm de diâmetro e com no máximo 5 cm de altura

Modo de fazer











Corte tiras de papel de seda no comprimento suficiente para cobrir a lateral do vidro usado. Comece prendendo o papel com um pedaço de durex, passe-o em toda a volta do vidro e arremate  com outro pedaço de durex.


Corte retângulos de Color Set no tamanho 30cm x 22 cm ou 30cm x 15cm, dependendo da altura do vidro.
Dobre o papel ao meio e com um lápis e uma regua, marque intervalos de 2 cm por todo o comprimento do retãngulo. Corte tiras seguindo a marcação dos intervalos, começando pelo lado dobrado, mas não corte até o fim, deixando um espaço de 2 cm na borda. Desdobre o papel, una as extremidades, formando um cilindro vazado e prenda com durex.



Vista os cilindros vazados  nos vidros já encapados com papel de seda. Ascenda as velas e coloque cuidadosamente dentro do vidros.


E pronto para enfeitar a noite da festa. Pode tanto servir como centro de mesa quanto decoração ao ar livre.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dia dos Namorados com Red Velvet Cupcakes


E junho traz para os brasileiros o Dia dos Namorados. Com o friozinho de fundo, o clima romântico se acentua, porque gostoso mesmo é se aquecer agarradinho à pessoa amada.
Na realidade, o Dia dos Namorados é comemorado no hemisfério norte no dia 14 de fevereiro, e é conhecido como o  Dia de São Valentim, santo patrono dos enamorados. Nesse dia, os casais trocam presentes, cartões e bombons, como uma expressão de amor.


Conta a lenda que na Roma antiga, durante os festejos da Lupercália, que acontecia na metade do mês de junho, os rapazes e moças solteiros que se iniciavam nos rituais do amor, uniam-se por sorteio, e caso nascesse uma paixão, o relacionamento poderia prosseguir e evoluir para o casamento mais tarde. Esses rituais foram banidos sob as leis do Imperador Claudius II, que tinha planos de formar um poderoso exército e acreditava que homens solteiros dariam melhores combatentes, além de não trazerem o inconveniente de deixar esposa e filhos para lutar nas guerras. Por essa razão, todos os noivados e casamentos foram cancelados. Valentim , um sacerdote cristão, continuou celebrando casamentos secretamente, pois entendia que a lei imposta não era justa. Quando foi descoberto, Claudius o condenou à morte, sendo o padre executado no dia 14 de fevereiro de 269 d.C

Com a cristianização dos
costumes romanos, pouco a pouco, a Lupercalia deu lugar à comemoração de São Valentim, que se tornou patrono dos enamorados, sendo celebrado dia 14 de fevereiro, no aniversário de sua morte.
Essa lenda eu conto com mais detalhes na postagem Amor com Torta de Chocolate .

No Brasil, o motivo da data ser comemorada no dia 12 de junho, não se deve a uma razão romântica ou tradicional, infelizmente. Como não havia o costume de se celebrar o Dia de São Valentim no país, a idéia foi trazida em 1949 pelo publicitário João Dória, com o objetivo de se melhorar as vendas no comercio paulista em junho, e a campanha foi veiculada com o slogan  “Não é só de beijos que vive o Amor". O dia 12 foi escolhido por ser véspera do dia de Santo Antonio, o santo casamenteiro. A campanha deu tão certo, que logo foi adotada pelo Brasil inteiro. Nascia dessa forma, o Dia dos Namorados.
Sem sombra de dúvidas, tomar conhecimento da origem pouco nobre do nosso Dia dos Namorados, nos causa, inicialmente, um misto de indignação e desencanto com a data, mas pensando bem, como eu disse inicialmente, o frio de junho nos convida ao aconchego, e naturalmente, a um clima mais romântico. Por que não aproveitar? Afinal, no nosso quente e barulhento mês de fevereiro "o importante é ter Carnaval pra gente sambar", como diz uma famosa marchinha...

De qualquer modo, elegeu-se essa data para celebrarmos o amor de uma forma romântica, não importando se com um belo cartão, ou flores, com presentes, ou um jantar especial, ou ainda, dançando na sala de casa aquela música que marcou o namoro. Cabe a nós dar um sentido mais profundo ao dia, ou deixar-nos levar pelo apelo comercial e por essa mesma razão muitos optam por confeccionar um presente artesanal, deixando ali uma boa energia amorosa. E com certeza, assar um bolo ou uma torta para o amado ou amada é uma das alternativas mais cotadas.

Agora, cito aqui uma curiosidade: ao longo dos anos, tenho assistido à minha filha, amigas de minha filha e  numerosas sobrinhas crescerem e tornarem-se mulheres, e nesse processo, claro, inclui o conhecimento do amor, e com ele, em meio a encontros e desencontros, um aprendizado que nunca tem fim. Eu rio muito, ao notar que quando as moças se apaixonam, em geral, a primeira coisa que fazem no âmbito da cozinha é aprender a fazer um bolo. A explicação para esse fato é um mistério, mas talvez esteja no inconciente coletivo das mulheres, talvez remonte à época em que o bolo era parte dos rituais... quem sabe, não seja um dos rituais de passagem!
E para colaborar com o ritual, sugiro um cupcake, tão em moda, para o Dia dos Namorados.
A receita deriva de um bolo tradicional americano, o Red Velvet Cake ( Bolo Veludo Vermelho), um verdadeiro sucesso no Valentine's Day ( Dia de São Valentim ), por sua cor vermelha luxuriante, sabor e textura, sempre com recheio e cobertura brancos para dar o contraste.
Obviamente, o vermelho intenso é obtido com boa dose de corante alimentício, fato que arrepia os cabelos dos adeptos aos alimentos naturais, sem conservantes. Pois é, eu me considero parte do grupo, e tenho testemunhas de que já testei a receita algumas vezes com alternativas naturais, como pó de beterraba, suco de beterraba, suco de romã, combinação de bicarbonato de sódio, vinagre e cacau em certas proporções, e por aí vai... Em todas elas, porém, o resultado foi um bolo marrom, com sabor totalmente alterado.
Então, abrindo-se aqui uma excessão, apresento uma receita de cupcake feita sob medida para o Dia dos Namorados. Os cupcakes são muito gostosos, e como se diz nos USA "something to die for" ( alguma coisa que vale a pena morrer )

Mas antes de começar a escrever a receita, tenho algumas observações :
_atenção com as medidas, pois são as medidas padrão, já publicadas em Medidas e Equivalências na Culinária
_ A receita original inclui buttermilk, um soro de manteiga ou espécie de leite azedo, muito usado nas receitas americanas, mas não disponível no Brasil. A substituição pode ser feita com o iogurte natural ( integral ou semi-desnatado ), ou adicionando 1 colher (sopa) de suco de limão em 1 xìcara (chá) de leite e deixar agir por 15 minutos. Pessoalmente, numa das vezes em que fiz o bolo e usei esse recurso de azedar o leite, achei que o sabor do bolo ficou alterado.
_A cobertura tradicional é feita com cream cheese e açúcar de confeiteiro, que acaba sendo uma combinação perfeita. Mas pode ser feita com outros ingredientes. Aqui publico a de cream cheese e a de chocolate branco.



Red Velvet Cupcakes
( para 12 cupcakes)


1 xícara (chá) de farinha de trigo
3 colheres (sopa) de cacau em pó
1/2 colher (chá) de bicarbonato de sódio
1/2 colher (chá)  de fermento em pó
1 pitada de sal
1/2 xícara (chá) de iogurte natural
1 colher (chá) de vinagre branco ou vinagre de cidra
1 colher (chá) de baunilha
2 colheres (sopa) de corante líquido vermelho
3/4 xícara (chá) de açúcar
50 gr ou 1/4 xícara (chá) de manteiga amolecida em temperatura ambiente
1 ovo grande


Pré aqueça o forno a 180 C ( médio). Coloque as forminhas de papel para cupcakes na forma correspondente.
Numa vasilha, peneire a farinha, o cacau, o bicarbonato de sodio, o fermento em pó e o sal  e misture. Reserve.
Numa segunda vasilha, misture o iogurte, a baunilha, o corante e o vinagre. Reserve.
Na batedeira, bata a manteiga, o açúcar e o ovo, formando um creme . Adicione os ingredientes secos aos poucos, alternando com a mistura do iogurte, e vá batendo, até formar um creme vermelho homogêneo.



Divida a massa entre as formas, enchendo cada uma cerca de 3/4 da capacidade.



 Asse por 20 minutos ou até que enfiando um palito na massa , este saia seco. Deixe os cupcakes esfriarem na forma por 10 minutos.



Remova-os da forma e deixe-os esfriar completamente numa grade.


Coloque a cobertura desejada e decore a gosto. Sirva como sobremesa ou acompanhando chá ou café.


Cobertura de Cream Cheese

100 grs de Cream Cheese Philadelphia
3 colheres ( sopa) de manteiga amolecida
1 xícara (chá) de açúcar de confeiteiro
1 colher (sopa) de baunilha

Bater os ingredientes na batedeira ou no mix, formando um creme espesso. Manter na geladeira.

Cobertura de Chocolate Branco
100 grs de chocolate branco em barra, picado
1 colher (sopa) de óleo vegetal

Derreter o chocolate e depois, adicionar o óleo. Misturar bem e cobrir o cupcake. Depois de um tempo, a cobertura seca, formando uma casquinha.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pão de Cerveja e o Mito de Deméter


Entrando no rítmo da vida em Michigan, volto à rotina de meu cotidiano daqui. Essa oportunidade que estou tendo de viver entre dois endereços diferentes, entre duas culturas distintas e entre dois hemisférios tem me despertado a atenção para muitos detalhes que antes eu não via, e tem me dado muitos insights. Esse vai e volta tem data marcada para se acabar, mas por enquanto, aproveito cada dia desse privilégio.
Deixei a minha cidade no Brasil com alguns dias ainda quentes, e outros de temperatura mais amena, naquele "jogo" de quente-frio que o tempo faz durante as mudanças de estação. No hemisfério sul agora é Outono, estação das colheitas, época de dias mais curtos, secos e com o frio acenando.
Aqui no hemisfério norte é Primavera. Aqui se celebra o ressurgimento das folhas e flores, e a volta de dias mais quentes e longos. O céu ainda está claro às 8 horas da noite. Depois do inverno longo e gélido, definitivamente, Perséfone, a do mito grego, está aqui. Na postagem Sabor de Outono esse mito é mencionado. Seu equivalente romano é o mito de Ceres ( deusa das plantas e dos grãos) e sua filha Prosérpina.








A Mitologia Grega conta que do romance entre Deméter ( deusa da agricultura ) e Zeus ( deus do Olimpo ) nasceu Core, que se tornou uma linda jovem. Hades ( deus do mundo subterrâneo ), ao ve-la, apaixonou-se e decidiu raptá-la. Deméter ficou inconsolável e se descuidou de seus deveres , deixando as terras estéreis e com isso houve escassez de alimentos.
Zeus ordenou a Hades que devolvesse sua filha, mas Core já estava casada com ele, pois tendo já comido algumas sementes de romã ( fruta da fertilidade, paixão e abundância) , oferecidas pelo marido, ligou-se ao mundo subterrâneo eternamente, tornando-se Perséfone ( rainha dos mortos) . Assim, estabeleceu-se um acordo: a cada primavera, Perséfone deixava Hades e se reunia com a mãe, no Olimpo, para que nessa época a terra cultivada desse seus frutos. A deusa, no outono, voltava para Hades e permanecia com ele até a primavera seguinte.

Esse mito era cultuado nos mistérios de Elêusis, celebrados na Grecia antiga, e eram divididos em duas etapas: os Grandes e os Pequenos Mistérios. O primeiro era representado em março, no Equinócio de Primavera, o segundo em setembro, no Equinócio de Outono, que em conjunto, representavam os ciclos da terra.
As cerimônias no Equinócio de Outono marcariam a volta de Perséfone ao reino subterrâneo de Hades, trazendo grande tristeza à sua mãe Deméter. Essa alegoria seria o símbolo do Outono, época em que os grãos são enterrados para a semeadura e a Natureza entra aos poucos em hibernação e, ocorrendo em seguida, uma morte simbólica com a ausência de verde, de flores e de frutos.
As cerimônias do Equinócio da Primavera marcariam o retorno de Perséfone para a companhia da radiante Deméter, alegoria da Primavera, época em que as sementes brotam e a vegetação renasce, e a deusa Deméter volta a cuidar da terra. Seria a renovação da vida, representada na germinação da semente deixada pela planta que antes vivia.

Os mistérios de Elêusis celebravam "o morrer para renascer",  e mais do que simbolizar o eterno ciclo da Natureza, representavam a alma em sua descida à matéria, seus sofrimentos ( trevas, mundo subterrâneo) e depois sua  volta à vida divina.

Jung, por outro lado, interpretava a separação de Perséfone da mãe Deméter como a superação dos aspéctos infantis internos ( o deixar-se conduzir por alguém ou algo que nos dê proteção e segurança ) e a entrada à vida adulta ( atuar no mundo, enfrentar obstáculos e incertezas ), e portanto, como símbolo do nosso processo de individuação. Pois na formação  de nosso Self, é preciso descer ao inconsciente, onde estão nossos medos, instintos, sentimentos negativos ( nossas profundezas) que nos tornam passivos, sendo essa descida normalmente sofrida. E,  ao subirmos de volta à nossa conciência,  esses aspéctos são trazidos à luz, para que aprendamos a lidar com os mesmos, integrando-os à nossa personalidade, amadurecendo-a e , com isso, nos transformamos em seres atuantes de nossa vida. Um verdadeiro processo iniciático.

Aos que vivem no hemisfério sul, nessa época de Outono, com as noites mais longas e os dias mais frios, é chegado o momento de um certo recolhimento, de fazer uma pausa junto à Deméter entristecida. Aos que vivem no hemisfério norte, passando agora pela Primavera, sob uma luminosidade que se intensifica até o Solstício de Verão, e se assiste ao florescer das árvores e plantas, é o momento da expansão, de dar boas vindas à Perséfone. São movimentos opostos,  rítmos que se alternam no decorrer do ano, e que sem dúvida,  refletem no nosso corpo e na nossa alma. 

Ambas estações são associadas com o eterno ciclo da vida, em que a morte faz parte e o renascimento também. São épocas que evocam tradições e festas, pois a vida deve sempre ser comemorada.
E para marcar presença na comemoração, deixo uma receita super fácil de pão de cerveja, muito apreciado pelos americanos. É um pão para ser saboreado em festas e churrascos, com muitos amigos.

Curiosidade: a palavra cereal é derivada de Ceres, a deusa romana correspondente a Deméter. Sendo a cerveja basicamente feita de cevada, e o pão, da farinha de trigo, considero essa receita muito simbólica para o tema desta postagem.


Pão de Cerveja e Queijo  

Ingredientes

2 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo
2 colheres (chá) de fermento em pó
1/2 colher (chá) de bicarbonato de sódio
1 colher (chá) de sal
1 colher (chá) de alecrim desidratado- ou orégano
1 xícara (chá) de queijo provolone* passado no ralo grosso ou no multiprocessador
1/4 xícara (chá) de azeite de oliva
1 1/2 xícara (chá) de cerveja "quente"- na temperatura ambiente

*o provolone pode perfeitamente ser substituido por queijo emental, edam ou estepe













Pré aqueça o forno em temperatura de 375 F ou 200 C ( media alta) e unte uma forma de bolo inglês (14cm X 23 cm) com manteiga ou margarina.
Numa vasilha, usando uma colher, misture a farinha de trigo com o fermento em pó, o bicarbonato de sodio e o sal. Adicione o queijo e o alecrim ( ou orégano)  ao mix de ingredientes secos e misture. Junte, então o azeite de oliva, mexa e finalmente adicione a cerveja e mexa bem, sempre com a colher, formando uma massa mole. Coloque a massa na forma já untada e leve para assar por 50 minutos. Após esse tempo  a massa deve estar dourada e, espetando-a com um palito, esse deve sair limpo.
Retire do forno e deixe esfriar na forma por pelo menos 30 minutos. Desenforme e bom apetite!



quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ritmos da Natureza e Panna Cotta


Regressando à minha casa em Michigan há duas semanas, em plena  primavera, percebi que o inverno foi mais longo esse ano. Encontrei uma Natureza ainda bocejando, ainda ensaiando as folhas verdes e sem flores,  e até com a neve relutante em ir embora. Ano passado, nessa mesma época, eu já tinha as minhas tulipas abertas e arbustos floridos no meu jardim.

Ontem, porém, ao passar pelo jardim, notei que os botões das flores haviam surgido, anunciando que logo mais terei uma festa de cores ao redor da casa. E dessa forma observo mais um ciclo da Natureza se completando, e, simultaneamente, dando início à outro, na eterna ciranda das estações do ano.

A Natureza tem ritmos cíclicos que  nos influenciam, aceitemos o fato ou não. As forças atuantes que se manifestam nas mudanças de clima, vegetação, marés e mesmo na rotação de planetas e estrelas, manifestam-se também em nós. Os povos antigos tinham um grande conhecimento dessas influências e guiavam-se pelos rítmos da Natureza, aprendendo com ela sobre a Vida, sobre o visível e o invisível. Esse conhecimento gerava uma comunhão profunda com as forças naturais, e consequentemente, desenvolvia-se um  belo sentimento de religiosidade pela Natureza. As celebrações dos solstícios e equinócios, pelos povos antigos, vinham da noção de que esses rítmos cíclicos eram sagrados e essenciais à vida.













No mundo atual de alta tecnologia e auto suficiência, nos convencemos de que somos seres independentes da Natureza. Na nossa cultura contemporânea, o tema das influências de fenômenos naturais sobre nós é associado às consequências nefastas ligadas a enchentes, nevascas, tornados, terremotos, tsunames, tempestades...e a nossa imagem sobre a Mãe Natureza é a de uma senhora zangada e vingativa, da qual queremos distância. Nesse contexto, o caminho para uma sintonia com a Natureza é longo e difícil, muitas vezes utópico. Felizmente, começa a existir uma nova consciência sobre nossa ligação com a Terra e o resto do Universo, e graças à essa nova consciência, aos poucos, a humanidade volta a se conectar com suas origens.

Voltando aos ciclos e estações do ano, Primeiro de Maio ( daqui a dois dias) será Beltane ou May Day (em Portugal se diz Fitas de Maio, alusão ao mastro com fitas), tradição dos antigos celtas, que é a celebração da fertilidade da Natureza, em toda sua extensão e comemorada até hoje em vários países, principalmente na Europa. Beltane foi o tema da postagem Rainha de Maio e o Bolo de Aveia e nela escrevo com detalhes sobre essa celebração tão bonita.
Beltane é um nome emprestado das religiões pagãs para essa época do ano, já que a celebração, originada pelas mesmas, vem de tempos remotos e acontecem até os dias de hoje, adaptadas ou não.
É o momento de colocar coroa de flores  na porta de casa, anunciando a primavera ( muito comum aqui nos Estados Unidos ), arrumar o jardim, dar festas, dançar, fazer comidas especiais, fazer churrascos.
Além do bolo de aveia, já mencionado em outra postagem, os pratos tradicionais dessa data são a base de leite ou derivados, frutas frescas, especialmente as frutas vermelhas, saladas.

Note-se, contudo, que para celebrar os ciclos da Natureza não é preciso fazer ritos ou seguir alguma religião específica. Basta comemorar do modo que sempre comemoramos uma data especial, festejando com um impulso de dentro para fora, colocando nossa marca na celebração.
Resgatar símbolos e costumes que festejam o movimento cíclico de fenômenos da Natureza: os solstícios de verão e inverno e os eqüinócios da primavera e do outono, chega a ser terapêutico, uma vez que
nos colocamos em sintonia com um rítmo natural, e talvez seja esse um primeiro passo para compreendermos que a vida segue num certo compasso e que tudo tem seu momento.

Para ilustrar o tema , apelando para o sentido do paladar, publico essa receita de sabor delicado, que é a Panna Cotta, sobremesa de origem italiana.

Panna Cotta com Calda de Frutas Vermelhas

Ingredientes para a Panna Cotta
-2  pacotes de 12 gr de gelatina em pó sem sabor *
-4 colheres (sopa) de água fria
-11/2 xícara (chá)  de leite integral **
-11/2 xícara (chá)  de creme de leite fresco **
-1/2 xícara (chá) de açúcar
-1 colher (chá) de baunilha

* 12 gr de gelatina é suficiente para 1/2 litro de líquido
** essa medida deve equivaler a 375 ml

Unte uma forma para manjar ou gelatina com margarina e reserve.
Numa panela pequena amoleça a gelatina em pó na água e aguarde 3 minutos, em seguida leve ao fogo baixo para dissolver, mas não deixe ferver. Tire do fogo e reserve.
Numa panela maior misture o leite, o açúcar e a baunilha e leve ao fogo médio. Adicione o creme de leite, e mexendo sempre, deixe aquecer bem a mistura, mas NÃO deixe ferver. Junte a gelatina dissolvida ao líquido aquecido e mexa bem.  Coloque a mistura na forma untada para manjar e cubra com filme plástico. Se a forma for do tipo Mágica da Tupperware, cubra com a própria tampa. Leve à gelar por cerca de 4 horas antes de servir. Desenforme.

Calda de Frutas Vermelhas
- 1 xícara (chá) de framboesas
-1 xícara (chá) de amoras
-1/2 xícara (chá) de açúcar
-1/4 xícara (chá) de água
- suco de 1/2 limão

Numa panela pequena, misture todos os ingredientes e leve ao fogo medio, mexendo até ferver. Retire imediatamente do fogo e deixe esfriar. Leve à geladeira e sirva sobre a Panna Cotta.




domingo, 13 de março de 2011

Ervas na Culinária



Quando se fala em ervas, me vem primeiramente à mente aroma e sabor, e somente segundos depois eu me lembro de suas propriedades medicinais ou mágicas ( ler Viagem ao Mundo das Ervas ). Como a cozinha é parte integrante de meu cotidiano, e muitas vezes meu laboratório, tenho certa intimidade com a gama de possibilidades que ervas e especiarias podem me oferecer nessa verdadeira alquimia, que é o ato de cozinhar.
As ervas e especiarias são a alma dos alimentos preparados, e sem elas a arte da culinária seria impensável. No meu entender as ervas e as especiarias estão para a comida como as cores estão para uma tela de pintura.
Aroma e sabor andam sempre juntos, posto que o olfato e o paladar são sentidos que se interrelacionam , não é dificil entender o papel das ervas na gastronomia.

Usadas desde os primordios da civilização, com registros históricos de uso culinário no Egito, Grecia e Roma antigos, já na Europa da Idade Media, as ervas e especiarias acabaram por ter seu uso restrito aos mosteiros, devido ao alto preço de sua comercialização, pois eram trazidas do Oriente. Eram utilizadas, primeiramente, como medicamentos, e mais tarde usadas como condimento. Os religiosos acreditavam serem elas oriundas do jardim do Eden, porque para eles, a origem dos melhores condimentos era um mistério, provocando especulações.
Com a chegada  das Grandes Navegações e, consequentemente, com a descoberta de novas rotas que eliminavam os intermediários na comercialização das especiarias- e descobrimentos de novas terras- as especiarias começaram a ser barateadas, e aos poucos, passaram a ser acessiveis à população.

Ao longo dos séculos, a diversidade no uso de ervas e especiarias no preparo dos alimentos foi sendo um dos fatores determinates para o aprimoramento da Arte  Culinária. Hoje, no mundo gastronômico, a diversidade e a sofisticação nos temperos são tão grandes, que nos deparamos com nomes como "ervas finas", "ervas aromáticas", ou ainda, "ervas da Provença", "bouquet garni" sem saber ao certo o que são. Então, vamos entender um pouquinho desses termos.
As ervas finas e as ervas aromáticas diferem-se na utilização. As aromáticas, também chamadas de especiarias e comumente originárias de clima tropical,  geralmente exalam mais perfume do que as ervas finas e podem ser  obtidas das folhas, casca, frutos, sementes ou raízes da planta. São usadas para temperar o alimento antes e/ou durante a cocção, pois o sabor e aroma ficam preservados com as altas temperaturas.

As ervas finas são a combinação de salsa, cebolinha, estragão e cerefólio ( da familia da salsinha, com sabor que lembra o anis )  basicamente, mas essa combinação varia conforme o local de sua utilização e também conforme o prato a ser temperado.São utilizadas frescas e picadas sobre o alimento após o preparo, ou pouco antes de sua finalização, porque o sabor e aroma dessas ervas, na sua maioria,  não resistem a altas temperaturas.

Os franceses, mestres mundiais da cozinha, valem-se de certas combinações em termos de sabor para utilizar as ervas nos pratos preparados:
Cerefólio- aromatiza saladas, peixes, omeletes e queijos brancos.
Manjericão- vai com tomates, batatas e beringelas
Alecrim- usado em carnes e legumes
Salsinha- vai em saladas, omeletes, sopas, molhos, queijos
Orégano- tempera carnes e aves antes de assar, vai com sopas, queijos e molhos para peixe.
Cebolinha- usada em quase todos os pratos, principlamente em purê de batatas, sopas, ovos, queijos.
Salvia- as folhas são mais usadas secas. Combinam bem com recheios de frango, pratos a base de queijos, linguiças, carne de cordeiro e porco.
Tomilho- tempera muito bem todas as carnes, peixes, ovos, saladas e legumes.
Estragão- aromatiza vinagres e mostarda. Usa-se picado para temperar saladas, molhos para peixe, ovos e queijos.


Existe ainda, o Bouquet garni, que é  um maço de ervas frescas amarradas com barbante e colocadas na água de cozimento dos alimentos e retirados no final do preparo, sendo uma forma de dar sabor a caldos, sopas ou ensopados. Usualmente o Bouquet garni é composto por salsinha, louro e tomilho, mas há variaçóes contendo salvia ou alecrim. Existe também a versão do Bouquet garni enrolado numa folha de alho poró.











Finalizando, as Ervas da Provença, ou Herbes de Provence,  são misturas de ervas desidratadas, provenientes do sul da França (Provença), e que surgiram comercialmente vendidas juntas e com esse nome na década de 70. Normalmente a mistura é composta por tomilho, manjericão, alecrim e segurelha, mas não existe receita padronizada, sendo que alguns chefs de cozinha chegam a incluir até mesmo a lavanda no mix. São usadas em pratos quentes, de modo geral, preferencialmente durante o cozimento, para melhor incorporarem-se nos sabores dos alimentos.



















Para se ter ervas frescas e sem agrotóxicos na nossa cozinha do dia a dia, recomenda-se plantá-las no quintal ou em potes e vasos.  E porque não plantá-las em latas charmosas para decorar a mesa e criar um ambiente especial em casa? ( Lembre-se de fazer três furos na base da lata com ajuda de prego e martelo, e dobrar para dentro as bordas cortantes com a ajuda de um alicate, tudo com muito cuidado, é claro. )




Depois dessas informações todas sobre o uso das ervas na culinária, deixo para voces aventurarem-se pelos vasos, hortas e cozinha, e entregarem-se aos sentidos do aroma e do paladar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cirandas e Danças Circulares



Eu já havia comentado numa das postagens que quando viajamos, nos abrimos para experiências novas e nossos sentidos ficam mais aguçados para captar ao máximo aquilo que vemos, ouvimos, cheiramos, saboreamos e tocamos.

E foi numa viagem encantada a beira de um mar azul e ladeada por coqueiros, dessas que se faz a dois, lá em Pernambuco, que acabei entrando numa ciranda, de dar as mãos e girar ao som de uma canção. Sim, meio que brincar de roda. Mas eu não precisaria viajar para me permitir fazer algo tão comum, voces vão me dizer. E eu respondo que não foi uma experiência comum. Participar de uma Ciranda de Lia, ao som de tambores e chocalho, foi quase uma entrada para um estado de transe, que na maior parte das vezes se consegue com a meditação.


A Ciranda é uma dança típica de Pernambuco, de ritmo marcado, dançada nas ruas ou beira da praia. E Lia de Itamaracá é o nome artístico de Maria Madalena Correa do Nascimento ( no Nordeste, Lia é uma abreviação de Maria ), compositora e cantora de cirandas, pernambucana, nascida e criada na Ilha de Itamaracá, onde vive até hoje. Lia ficou conhecida nos anos 60, quando a cantora e compositora Teca Calazans, ao interpretar os versos da cirandeira, acrescentou a quadra: "Estava na beira da praia/ Ouvindo as pancadas das ondas do mar/Esta ciranda quem me deu foi Lia/ que mora na Ilha de Itamaracá".


A Ciranda, segundo Lia, segue os movimentos das ondas do mar. De mãos dadas, uma grande roda é formada por adultos e crianças, que repetindo passos para frente e para trás, giram a roda, simulando o movimento das ondas, ao ritmo de canções puxadas pelo Mestre Cirandeiro, marcadas por instrumentos de percussão, como o bumbo, o atabaque, ou o tarol (caixa).





Sendo um tipo de dança circular, a Ciranda promove integração e harmonia, pois ao estar de mãos dadas numa roda, cada pessoa vivencia a sensação de pertencimento a um todo maior, e cada um torna-se responsavel por si mesmo e pela roda. O individual e o coletivo coexistem.
Dançar em círculo é uma prática que vem dos primordios da humanidade, e é comum a muitas culturas. Na antiguidade, as danças em roda faziam parte de cerimonias ritualísticas e estavam sempre presentes em celebrações como o nascimento, o casamento, a morte, o plantio e a colheita, a chegada das estações do ano, reforçando a união da comunidade. A dança em círculo é encontrada até hoje ao redor do mundo, e ainda praticada em ocasiões festivas, boa parte delas conhecidas e divulgadas nos meios de comunicação, tais como as danças celtas, gregas, israelitas, húngaras, as sardanas da Catalunha e as indígenas, só para citar algumas.



Em cada uma delas, a cultura e as tradições de um povo são vivenciadas no círculo, e ao entrar-se na roda, nos abrimos para algo muito maior do que o presenciado naquele momento.
O círculo, que não tem princípo e nem fim, representa a totalidade.
As culturas antigas tinham o círculo como o símbolo dos mistérios da vida e faziam a relação deste com toda a Natureza. Viam o círculo nas figuras da Terra, da Lua, do Sol e dos planetas, assim como no movimento do dia e da noite, no ritmo das estações do ano , no ciclo do plantio e da colheita. O nascimento, vida e morte também eram parte da analogia.
É inegável o valor mágico das danças circulares, porque estas possuem pelo menos dois elementos básicos que nos levam à transcendência ( ou se preferirem, estados alterados da consciência ): o balanço e movimentos repetidos do corpo executando um rítmo, combinado às marcações desse rítmo pelo tambor, ou outro intrumento de percussão.
Segundo Jonathan Goldman ( músico e professor americano), no seu livro Healing Sounds ( Sons que Curam) os sons podem ser usados para alterar nossas ondas cerebrais e a alteração da faixa de onda cria mudanças na consciência.


Nesse ponto, me vem à mente aqueles momentos em que nos deitamos na praia e fechamos os olhos, ouvindo o barulho das ondas e entramos numa espécie de transe ( quem já não teve essa experiência? ). Se os sons alteram nossa consciência, penso que o próprio mar já é uma porta para a transcendência.

E voltando à Ciranda de Lia, para mim, fazer parte daquela roda perto do mar e com os sentidos tão aguçados, foi uma espécie de meditação e uma experiência tão marcante, que aqui estou escrevendo sobre cirandas e ainda sentindo o movimento das ondas do mar...









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