terça-feira, 25 de setembro de 2012

Duas Dimensões do Tempo: Chronos e Kairós



Era uma vez, na Grecia Antiga, uma religião de mistérios que se chamava Orfismo, cujo fundador teria sido o poeta Orfeu, e que trouxe para os gregos uma teoria diferente sobre a criação do Universo, pois o que era aceito na época se baseava na Mitologia.
Conta-nos os ensinamentos Órficos, que  Chronos ( ou Khronos )*, o senhor do Tempo, surgiu do nada, no princípio de tudo, por sí mesmo, sem forma e serpenteante  e encontrou Ananke, deusa da  Inevitabilidade ou da Necessidade, também ela surgida do nada e por si só, sem forma e serpenteante e uniram-se, entrelaçando-se numa espiral em volta do Ovo Primogênito, partindo-o e assim, dando origem ao Universo, à Terra, ao Céu e ao Mar. E permanecem desde então, eternamente entrelaçados, como forças do Tempo e do Destino que guiam  a ordem do Universo.

* Não confundir com o Titã Cronos, filho de Gaia e Urano,  da Mitologia Grega, que devorava todos os filhos que tinha com a deusa Reia ( mito narrado em Lendas dos Deuses do Olimpo ).

Essa teoria influenciou vários filósofos da época como Platão e Pitágoras , muitas vezes com ressalvas e adaptações. Mas o meu tema aqui vai se limitar a um elemento dessa teoria: ao Senhor do Tempo, Chronos, que guia a ordem do Universo e de todos os seres vivos.

Chronos é o tempo mensurável, linear, no qual  todas as criaturas  nascem, crescem, envelhecem e morrem. É a passagem do tempo percebida através das mudanças. É o tempo vivido nos dias da semana,  nos meses do ano  e finalmente, nos anos de nossas vidas e dele não se pode fugir. Chronos é a Ampulheta, cuja areia escorre sem parar e nesse passar incessante do tempo nos deparamos com nosso ser mortal, nossa finitude.

Tempo de Chronos

Mas como todo veneno tem um antídoto, nos é dada uma saída apontada por Kairós, o outro deus grego do Tempo. Sim, porque os gregos tinham dois deuses e duas palavras para o Tempo: Chronos para o tempo que pode ser medido e Kairós para o tempo indeterminado, oportuno. O significado de Kairós seria "o momento certo". 






Kairós era o filho caçula de Zeus, jovem atlético e de extrema beleza, e que se movia muito rápido, pois portava asas nos ombros e nos pés. Usava cabeça raspada, deixando apenas um belo tufo de cabelo na testa, e a razão para isso é que as pessoas só podiam agarrá-lo pela frente, pegando no tufo de cabelo. Ele era tão rápido que sequer Zeus conseguia pegá-lo depois que tivesse passado.

Por essa razão os pitagóricos, que explicavam todo o Universo por relações numéricas, identificavam Kairós como o número sete e o chamavam Oportunidade.  Por que? Porque Pitágoras dizia que o sete carrega a vibração que propicia toda criação; vibração essa que provocou a descontinuidade entre o Nada (contínuo) e o Universo Criado.
Analogamente, Kairós  provoca uma descontinuidade nesse tempo burocrático de Chronos, propiciando-nos ocasiões diversas, mas a realização de um tempo especial, significativo fica por nossa conta. Afinal, somos os protagonistas de nossa própria história - Kairós precisa ser pego de frente pelo tufo de cabelo, lembra? Depois, o momento propício passa.

O corpo, que é matéria, está submetido ao tempo de Chronos, que quantifica e mantém a areia de nossa existência escorrendo pela Ampulheta imaginária.
A alma, que é divina e eterna vive o tempo de Kairós, que não traz um início, meio e fim. Por essa mesma razão os teólogos associam Kairós ao tempo de Deus, ao divino.

Esse tempo em que aproveitamos para brincar com nossos filhos ou lhes contamos uma estória, o tempo que usamos para a prática de um hobbie ou esporte preferidos,  o tempo que passamos admirando o por do sol, passeando de maos dadas com a pessoa amada, comendo uma pizza com os amigos. Todas essas coisas que  pensamos ser banais e fazerem parte da vida, todas elas de certa forma nos libertam daquela contagem de horas, dias e meses e nos levam a medir o tempo pelos momentos vividos. Quando acrescentamos qualidade na nossa vida, transcendemos o tempo cronológico ( perdemos até a noção de tempo muitas vezes ) , e por esse tempo qualitativo  descontinuamos o que é continuo.
Kairós está sim associado a grandes oportunidades ou momentos marcantes, ou ainda tomadas de decisões importantes, mas não limita-se a isso.

Kairós é o nosso próprio tempo vivido em paralelo às horas, aos dias e aos meses do ano.



Tempo de Kairós


Finalizo com essa música do Legião Urbana, que na minha opinião ilustra muito bem como vivemos nessas duas dimensões de tempo.







Tempo Perdido
Legião Urbana



Todos os dias quando acordo,

Não tenho mais o tempo que passou

Mas tenho muito tempo

Temos todo o tempo do mundo.



Todos os dias antes de dormir,

Lembro e esqueço como foi o dia

"Sempre em frente,

Não temos tempo a perder".



Nosso suor sagrado

É bem mais belo que esse sangue amargo

E tão sério

E selvagem,

selvagem;

selvagem.



Veja o sol dessa manhã tão cinza

A tempestade que chega é da cor dos teus

Olhos castanhos

Então me abraça forte

Me diz mais uma vez

Que já estamos distantes de tudo

Temos nosso próprio tempo,

Temos nosso próprio tempo,

Temos nosso próprio tempo.



Não tenho medo do escuro,

Mas deixe as luzes acesas agora,

O que foi escondido é o que se escondeu,

E o que foi prometido,

Ninguém prometeu.



Nem foi tempo perdido;

Somos tão jovens,

tão jovens,

tão jovens.



terça-feira, 17 de julho de 2012

Flor de Hibisco






Há um tempo que ficou para trás ( há mais de uma década...risos...), quando eu morava em Santo André, um dos meus programas favoritos era frequentar uma famosa casa de chá egipcia de São Paulo. O que mais me fascinava  naquele lugar era o ambiente impregnado de exotismo nos sons, imagens e aromas, que estimulavam minha fantasia e me transportavam para o Egito, ou melhor, para o  Egito da minha imaginação. As dançarinas de dança do ventre que se apresentavam lá, sempre  boas profissionais,  pareciam divindades girando entre véus pelas várias salas em que se dividia a casa. Naquele ambiente, todos os sentidos eram despertados de modo pleno, com as músicas, os aromas e sabores dos chás, dos quitutes e dos perfumes das dançarinas, além dos  movimentos sinuosos de corpos e véus mostrados nas danças. Para mim, contudo, saborear o chá de Karkadeh, bebida típica do Egito, confortavelmente sentada numa das almofadas que serviam de assento em torno de pequenas mesas, enquanto desfrutava de tudo o que era oferecido, acrescentava um brilho a mais na experiência. Aquele chá vermelho de sabor único ficava na minha memória olfativa e palativa por vários dias.

Tempos depois, aprendi que esse chá que os egípcios chamam de Karkadeh, é feito com flores de Hibisco,  mas não  esses comuns de jardim, que chamamos de Flor de Mimo ou Mimo de Venus,  e sim o Hibiscus Sabdariffae L., conhecida por muitos nomes pelo Brasil afora: vinagreira, azedinha, flor de groselha, rosela, caruru azedo, quiabo roxo e outros mais; bem ao alcance de nós cidadãos brasileiros, porque a planta tambem é cultivada  em solo nacional. 
Embora não se saiba ao certo sua origem, o mais provável é que tenha surgido na África, onde parece ter sido cultivada inicialmente a partir de suas sementes. A planta chegou ao Brasil  trazida pelos africanos da região da Guiné (que eram traficados como escravos), onde se adaptou bem às regiões de clima tropical e subtropical, ocorrendo o mesmo em toda a América ( Novo Mundo ) no período escravagista.
Mundialmente é uma planta muito utilizada na culinária e na medicina alternativa. No Brasil, o Norte e o Nordeste têm tradição do uso da vinagreira (como é conhecida) na culinária regional, especialmente no Maranhão, onde é ingrediente do prato típico Arroz de Cuxá.




Flores secas





Flores Frescas
As propriedades terapêuticas do Hibisco são muitas, destacando-se sua ação diurética e auxílio em casos de hipertensão e infecções do trato urinário. Diminui os níveis de colesterol,  evita a diabetes tipo 2, e por ter ação laxante, favorece o organismo em caso de constipações. Acelerador do metabolismo, auxilia no processo de emagrecimento.

Sobre as propriedades mágicas, seu elemento é o Ar, é  regida pelo Sol, mas devida a forma de cálice das flores, é associada à Venus. E claro, vinda da África, no panteão dos Orixás é associada a Xangô.

O Hibisco é usado na culinária em molhos, cozidos, geléias, refrescos e chás. E voltando a falar em chá, quando quero relembrar o sabor do Karkadeh, faço meu próprio chazinho e fico num canto gostoso da casa, apreciando seu sabor que fica entre um leve azedinho e  suave adocicado. Ainda não conheci o Egito, mas não faltam planos.



Chá de Flores de Hibisco

_2 xícaras (chá) de água
_1 colher (sopa) de flores secas de hibisco
Aquecer a água ao ponto de fervura, adicionar as flores secas, desligar o fogo, e abafar por 10 minutos ( infusão). Coar e servir o chá, adoçado ou não.


Ousando um pouquinho,  cozinhar peras numa espécie de chá forte de hibisco rende um resultado maravilhoso. Eu conhecia peras ao vinho, muito tradicionais na cozinha francesa, mas fiquei surpresa quando descobri que peras na calda de flor de hibisco são tambem muito comuns entre os franceses. Modifiquei a quantidade de açúcar, mais ao gosto brasileiro.

Peras em Calda de Flores de Hibisco   
_ 6  peras pequenas (  portuguesa )
_ suco de 1 limão
_1 litro de água filtrada
_1 xícara (chá) de açúcar
_4 colheres (sopa) cheias de flores secas de hibisco
_6 estrelas de aniz
_1/2 fava de baunilha cortada ao meio
_lascas de gengibre fresco
- sementes de 10 capsulas de cardamomo



Descasque as peras com cuidado, mantendo-lhes as formas. Banhe-as no suco de limão e reserve.
Numa panela media funda, ferva a água e em seguida mergulhe as flores secas de hibisco,  apagando o fogo e deixando em infusão por 30 minutos. Coe o líquido, retirando as flores e retorne-o ao fogo juntando o açúcar , o aniz, a baunilha, cardamomo e o gengibre. Levante fervura, adicione as peras,  abaixe  o fogo e mantenha a calda no fogo médio, cozinhando as peras, em panela semi tampada.

 Deixe cozinhar por cerca de 40 minutos, dando uma mexida de vez em quando. As peras devem ficar macias, mas não desmanchando; espetando com um garfo, este deve entrar com certa facilidade.. Retirar as peras da panela e coloca-las num recipiente de vidro ou compoteira, junto à calda formada. Caso deseje dobrar a receita, retire as peras depois de 40 minutos e mantenha a calda no fogo para dar o ponto. Deixar esfriar e levar à geladeira, deixando as peras de molho na calda. De preferência servir de um dia para outro. Servir quente ou gelado, acompanhado de chantily, sorvete de creme ou creme de leite de mesa.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sobre o Desejo- entre Morangos e Suspiros




Com a proximidade de mais um Dia dos Namorados, impossivel não se pensar sobre o amor e desejo. Embora esses mesmos elementos tenham pesos e significados diferentes para homens e mulheres, é inegavel que estão presentes na vida de cada um.
Jonathan Swift, escritor irlandês que viveu entre os séculos XVII e XVIII, dizia que para o homem, o desejo gera o amor e que para a mulher, o amor gera o desejo. Mas será que isso ainda é válido nos dias atuais de liberdade sexual para ambos homem e mulher? Dificil dizer.

Mas ao falarmos em desejo, contudo,  devemos lembrar que este é um termo que se aplica a outros apetites além do sexual;  inicialmente desejo seria a busca por qualquer prazer que satisfaça os sentidos. Mas segundo o dicionário, desejo é a vontade de possuir ou fazer algo. Podemos desejar um doce, uma viagem, uma música, uma missão...Então o desejo não estaria restrito ao âmbito do sensório, e sim presente na totalidade da vida.
O desejo é um impulso contínuo, infinito, mas o objeto do desejo pode carregar a condição de finitude.

Existe na Mitologia Hindu, um deus chamado Kama, que em sânscrito significa "desejo", conhecido também como Kamadeva , ou ainda como Manmatha ( batedor de corações), entre outros nomes. Kama é o deus do amor e do desejo, equivalente à Cupido da Mitologia Romana ( ou Eros da Mitologia Grega ), que com seu arco florido e cinco flechas floridas envia desejos que fazem o coração estremecer. Por ser o desejo encarnado, Kama governa a Terra e as esferas celestes inferiores.
Originado em Brahma, o criador do Universo e de todas as coisas, Kama é enviado à Terra com a missão de perpetuar todas as formas de vida .

Transcrevo aqui um trecho da narrativa de Heinrich Zimmer* sobre esse mito, publicado na íntegra pelo site http://shakyamuni.net.br/2010/08/28/como-o-desejo-cria-o-mundo/ . Lindo, lindo. Eu não pude encontrar outro conto mitológico que traduzisse tão bem o que é o desejo.

"Brahma, submergindo ainda mais em sua límpida obscuridade interior, atinge uma nova profundidade e de súbito a mais bela mulher de pele escura brotou de sua visão, e ergueu-se desnuda aos olhos de todos.
Era Aurora, radiante e vibrante de juventude. Nada que se lhe assemelhasse jamais seria vista, quer entre os homens quer nas profundezas das águas, nos palácios cravejados de pedras preciosas das rainhas e reis serpentes. (...)
Brahma conscientizou-se de sua presença; elevou-se, abandonando a postura de iogue, fixando nela um longo e intenso olhar. Com os olhos físicos ainda presos nela o Criador permitiu que sua visão espiritual retornasse à sua própria profundidade, onde procurou encontrar – também o fizeram os dez filhos nescidos-da-mente e os dez guardiões das idades, os “Senhores das Criaturas” – a funçao dessa aparição na evolução posterior do trabalho da criação, e a quem pertenceria.
Eis que se deu a segunda surpresa: da indagação interior de Brahma brotou outro ser – desta vez um jovem, esplêndido, escuro e forte. (...)  Exalava um aroma de flores e assemelhava-se a um elefante instigado por veemente desejo. Em uma das mãos trazia um estandarte ornado com um peixe; na outra, um arco florido e cinco floridas flechas. Ao vê-lo, um espanto intrigado assenhoreou-se dos dez filhos nascidos-da-mente e dos dez guardiões do mundo. O desejo começou a formigar neles. Começou a movê-los o secreto e ardente anseio de possuir a mulher. Foi assim que o Desejo apareceu pela primeira vez no mundo. O recém-chegado, encantador, nada intimidado, voltou seu belo rosto para Brahma, curvou-se e perguntou: “Que devo fazer? Por favor, instruí-me. Um ser somente floresce quando executa a tarefa para a qual está destinado. Dai-me um nome apropriado, um lugar para morar e, desde que sois o criador de todas as coisas, uma mulher”.
Brahma permaneceu silencioso por algum tempo, atônito diante da sua própria criação. Que é que emanara dele? O que era isso? Recolheu e subjugou a própria consciência, levando a mente outra vez para o centro. Dominou a surpresa. Novamente senhor de si, o Criador do mundo dirigiu-se à sua notável criatura e designou-lhe o campo de ação.
“Sairás errando pela terra”, disse ele, “enchendo de perplexidade homens e mulheres com teu arco e flechas floridos, assim propiciando a contínua criação do mundo. Nenhum deus nem espírito celestial, demônio ou espírito do mal, divindade-serpente ou duende da natureza, nenhum ~homem ou animal selvagem, criaturas do ar ou do mar, hão de ficar fora do alcance de teus dardos. Nem mesmo eu, ou Vishnu que a tudo impregna, nem mesmo Shiva, o pétreo asceta imóvel imerso em meditação. Nós três estaremos sob teu poder – para não falar de outras existências que respiram. Deverás atingir, imperceptível, o coração, e ali despertar o prazer, provocando a perpétua e renovada criação do mundo vivente. O coração há de ser o alvo de teu arco; tuas flechas levarão alegria e emoção embriagadora a todos os seres que respiram. Essa, portanto, é a tua missão: ela perpetuará o momento da criação do mundo."


*Zimmer foi professor universitário, historiador e estudioso da filosofia, mitologia e arte hindus, falecido em 1944.

E a narrativa segue descrevendo as emoções que o Desejo desperta em todos os seres, não escapando delas sequer Brahma, o Criador. Por essa razão o desejo é chamado de "O Agitador do Espírito".
E esse agitador do espírito entendemos como um fogo que nos move em busca de um amor, de um conhecimento, de uma realização, enfim, a vida flui por esse fogo. É o início de tudo e também a sua permanência. Amém.

Como sempre, muita gente espera que eu poste uma receita que lhes desperte o desejo (ou apetite), então resolvi publicar a receita do Trifle de Morangos e Suspiros, que passou a ser objeto de desejo de alguns, depois de saborearem o doce numa das minhas festas.
Trifle ( pronuncia-se trai-foul ) é uma sobremesa em camadas de origem inglesa, geralmente composta por tiras de  bolo ou biscoitos umidecidos, creme, frutas e chantily.
E para não faltar uma dose de magia, o Morango, em forma de coração e de cor vermelha intensa, é uma "fruta" consagrada à Vênus, deusa romana do amor ( Afrodite para os gregos ). Então vamos ao delírio!

Trifle de Morangos e Suspiros  

-2 caixas pequenas de morangos
-150 gr de suspiros partidos
- 500 ml de creme de leite fresco batido em chantily
-100 gr de biscoitos champagne ou tiras de pão de ló, ou sobras de bolo
-1 1/2 xícaras de calda de frutas vermelhas
-1 lata de Moça Cremoso ( creme a base de leite condensado para recheios e coberturas )
-1 embalagem  de 200 gr de Creme de Leite Leve- Nestlé

Calda de Frutas Vermelhas

- 1 xícara (chá) de framboesas
-1 xícara (chá) de amoras
-1/2 xícara (chá) de açúcar
-1/4 xícara (chá) de água
- suco de 1/2 limão

Numa panela pequena, misture todos os ingredientes e leve ao fogo medio, mexendo até ferver. Retire imediatamente do fogo e deixe esfriar.
Obs.- pode-se usar framboesas e amoras congeladas


Montando o trifle:
Prepare a calda de frutas vermelhas e deixe esfriar.

Lave bem os morangos, seque-os e corte-os ao meio, separando 2 ou 3 inteiros para decorar. Reserve.

Bata o creme de leite com 2 coheres (sopa ) de açúcar e 1 colher (chá) de essência de baunilha. Reserve.

Numa tigela misture o Moça Cremoso com o Creme de Leite Leve, formando um creme homogêneo.
Escolha um recipiente de vidro ou uma taça grande própria para servir trifles. Forre o fundo com o pão de ló, bolo ou biscoito champagnhe. Umideça bem com  metade da calda de frutas vermelhas e reserve a outra metade. Espalhe o creme sobre o bolo umidecido, em seguida espalhe parte dos morangos e suspiros partidos sobre o creme. Por cima dos morangos e suspiros espalhe parte do chantily. Repita a camada de morangos e suspiros, e novamente o chantily sobre os morangos, até terminar os ingredientes. Cuidadosamente, em colheradas, derrame o que sobrou da calda de frutas vermelhas apenas nas laterais da sobremesa. Decore com suspiros e morangos inteiros. Cubra cuidadosamente com papel alumínio e leve ã geladeira por pelo menos 2 horas. Retire da geladeira ( e descubra o papel aluminio) apenas na hora de servir.






sábado, 10 de março de 2012

Eros e Psiquê



Eu ja comentei na postagem Os Deuses Não Estão Mortos que na Mitologia Grega, assim como na sua correspondente Romana, deuses e semi-deuses assemelham-se aos humanos, carregando os mesmos instintos e sentimentos, como um arquétipo da natureza humana. 
E que esses mitos pertencem a uma tradição de ensinamentos para a vida prática, passados de geração em geração, sendo que em cada um de nós existe vários deuses e deusas, compondo nosso repertório humano.
Segundo o americano Joseph Campbell (1904-1987), um dos maiores mitólogos de todos os tempos, se formos  procurar a definição de Mito num dicionário, encontraremos " historia dos deuses ". Em seguida Campbell devolve: "O que é um deus? Um deus é a personificação de um poder motivador ou de um sistema de valores que funciona para a vida humana e para o universo- os poderes do seu próprio corpo e da natureza. Os mitos são metáforas da potencialidade espiritual do ser humano, e os mesmos poderes que animam a nossa vida animam a vida do mundo".
Hoje o tema aqui  é o mito de Eros e Psiquê.
Eros é o deus grego do amor e do desejo, e em tempos arcaicos era considerado um deus primordial, nascido do Caos, conforme descreve Hesiodo em Teogonia ( poema mitológico que fala sobre a origem do deuses e do mundo ). Mais tarde, foi conhecido como filho de Afrodite e Ares. Seu correspondente na Mitologia Romana é Cupido, representado por um menino de asas, carregando seu arco e flechas envenenadas com a poção do amor, e sempre pronto a acertar o coração de alguem, fazendo da vítima mais um apaixonado na Terra.

Salvatore D'Onofrio, escritor e professor italiano naturalizado brasileiro e docente em Teoria da Literatura descreve Eros da seguinte forma:
"O Eros verdadeiro é o deus do amor no seu sentido integral, que engloba corpo e alma. A atração puramente física é animalesca e não humana. É apenas o bicho que tem o período do cio. O homem e a mulher se amam (ou deveriam se amar!) sempre e em todos os lugares por uma comunhão de sentimentos que transcende o aspecto corporal. O erotismo, que verdadeiramente funciona e que faz perdurar a atração recíproca por longo tempo, está no olhar apaixonado, na admiração que o amante sente pelas qualidades físicas e espirituais que consegue enxergar na pessoa amada. A função erótica, que  estimula o desejo de uma forma mais duradoura, está evidenciada na poesia lírica, na pintura, na dança, nos filmes sentimentais, na arte em geral, pois supera o nível do real e penetra no mundo da fantasia, do sonho, do vago sentimento do inacessível".

Psiquê, cujo significado do nome é "sopro da vida" ou "essência que anima" (alma), personifica a alma humana. A palavra de origem grega também significa borboleta e por essa razão Psiquê é representada por uma jovem com asas de borboleta. Seu mito surgiu ligado à Eros, numa das narrativas no livro O Asno de Ouro ( inicialmente entitulado Metamorfoses ), cujo autor  Apuleio ( Lucius Apuleius ), que viveu no tempo do Imperio Romano, era filósofo seguidor de Platão e estudioso letrado, sendo também um iniciado em alguns mistérios ocultos, como o da deusa Isis ( transmutação da morte em vida ) e de Asclepius ( mistérios de Cura ). Sendo Apuleio um místico, as narrativas não são meros contos, carregando muitas simbologias.

Conta a narrativa, que Eros ( Amor ), certo dia, acidentalmente, espetou-se numa de suas flechas e se apaixonou por Psiquê ( Alma), uma bela mortal, tão bela que provocou ciumes em Afrodite, pois os homens deixavam de venerar a deusa para admirar essa linda mortal. O problema é que a seta seria para que Psiquê se apaixonasse por um monstro, a pedido da furiosa Afrodite, mas o resultado saiu bem diferente do esperado e Eros decidiu, por bem, esconder o romance de sua mãe, tomando secretamente Psiquê como sua mulher.
Para isso, nunca se revelava a Psiquê, e permanecia com a esposa apenas no escuro da noite, para que ela não o visse. Outra razão para não se revelar, é que Eros queria ser amado como homem e não como um deus. A bela jovem sentia na carne e na alma o grande amor e carinho de Eros, mas mesmo ficando grávida seguia sem conhecer as feições do marido. Certa noite, porem, cheia de curiosidade e instigada pelos maus conselhos de duas irmãs invejosas, resolveu ascender uma lamparina de azeite para poder ver o rosto do amado, enquanto este dormia, e ficou impressionada com a sua beleza. Tão impressionada, que distraidamente derramou um pouco de azeite quente sobre o ombro  do marido e assim o acordou. Eros ficou desesperado e fugiu, dizendo que fora traido e que o amor não poderia sobreviver sem a confiança. Retorna , então, junto à Afrodite para que ela lhe cure a ferida.
Psiquê fica sozinha e desesperada com seu erro, e assim decide reconquistar o amado. Implora à Afrodite ( a sogra ) que a ajude na reconquista de Eros, mas a deusa recebe Psiquê com muita hostilidade. Por fim, vislumbrando uma vingança, finge que lhe concede o pedido, impondo-lhe 4 trabalhos dificílimos de executar, esperando assim, que Psiquê fracasse.


A primeira tarefa seria separar por espécie uma pilha onde estão misturadas milhões de sementes de  trigo, cevada, milho, papoula, grão de bico, lentilha e favas em uma noite. Psiquê fica sobrecarregada com a tarefa, e entre desespero e exaustão, cai no sono. Momentos antes do sono a  jovem evoca  a ajuda das formigas e de repente surgem milhões delas, e com o trabalho delas, os grãos são separados dentro do prazo. Psiquê desperta com alivio.
Afrodite, surpresa com o cumprimento da tarefa, e muito irritada, ordena o cumprimento do próximo trabalho, ainda mais dificil.

A segunda tarefa de Psiquê consistia em trazer uma tosa de lã dourada, colhida de carneiros dourados, mas chegando perto do lugar onde eles estão,  na margem de um rio, percebe que se trata de carneiros selvagens, debatendo-se enfurecidos com o calor do sol. Sente-se incapaz de cumprir a tarefa e começa a se desesperar, quando ouve vozes sussurradas vindas dos juncos a beira do rio, que lhe contam que à noite, quando os carneiros dormem exaustos e aliviados pela brisa refrescante, ela poderia colher fios da lã dourada, enroscados nos ramos das árvores em que se esfregavam quando se debatiam. E assim Psiquê o fez.

Realizada a segunda tarefa com êxito, Afrodite entre incrédula e irritada, passa a terceira tarefa à bela mortal, que seria encher uma taça de cristal com água da nascente do rio Estige ( o rio da imortalidade ), mas a nascente ficava no alto de um penhasco, impossível de escalar, e as águas caiam num vale cercado de dragões. As próprias águas aconselharam prudência à Psiquê, que se afastasse dali. A jovem ficou paralisada, sem saber o que fazer. Mas Zeus, compadecido do amor entre Eros e Psiquê, envia uma águia para ajudar na tarefa, e esta leva a taça até o alto do penhasco, enchendo-a com a água e trazendo-a de volta à bela mortal.

Quando Psiquê entrega a taça com a preciosa água à Afrodite, recebe com assombro a quarta e última tarefa.
Na quarta tarefa, Psiquê é enviada por Afrodite ao reino dos mortos para conseguir uma poção de beleza com Perséfone. Desesperada com a tarefa imposta, Psiquê sobe numa torre muito alta para de lá se jogar, pois pensa que apenas morrendo é que conseguiria entrar no reino de Hades, marido de Perséfone e Senhor dos Mortos. Porém, a torre fala com Psiquê e lhe revela como entrar no reino dos mortos sem precisar morrer ( "vá ao Monte Tenaro e encontre a gruta que te leva ao reino subterraneo", ensina ) e a instrui como agir durante a sua jornada pelo reino, finalizando com uma forte recomendação de que não aceitasse nada que lhe fosse oferecido para comer e que jamais abrisse a caixa com o conteudo dado por Perséfone.

E Psiquê, seguindo à risca a orientação da torre em sua jornada, paga o barqueiro Caronte na ida e na volta com uma moeda; encontra um homem coxo que lhe pede ajuda para apanhar a lenha que caíra de seu jumento e nega ajuda; encontra um homem que está se afogando e também recusa ajudá-lo; encontra as três Tecelãs do Destino e, apesar do desejo de interagir com elas, segue seu caminho; fica diante de Cérbero, o cão de três cabeças e guardião dos infernos, e atira um pedaço de pão na ida e outro na volta e em ambas situações as cabeças brigam entre si, pois é apenas um pedaço de pão e três cabeças e enquanto as cabeças de Cérbero brigam, Psiquê se aproveita e passa por eles; encontra Perséfone e lhe faz o pedido da poção de beleza. Perséfone concede a poção embelezadora, que é entregue dentro de uma caixa à Psiquê e lhe oferece um banquete, que gentilmente é recusado.

Na jornada de retorno, no entanto, a bela não resiste à tentação de experimentar em sí mesma a poção de beleza, e ao abrir a caixa cai num sono semelhante à morte ( um coma ) .
Eros, que havia perdoado Psiquê e há muito sentia sua falta, sabendo do  que aconteceu com a amada, pede à Zeus permissão para despertá-la, fechando a caixa novamente.
Depois de refeita, Psiquê vai até Afrodite e lhe entrega a caixa com o conteudo cedido por Perséfone. Enquanto isso, Eros voa até  Zeus e lhe pede que o ajude a fazer com que Afrodite aceite sua união com Psiquê, e o deus dos deuses atende seu pedido, convencendo a deusa do amor e da beleza a  abençoar aquela união..

Zeus, então, pede ao deus Hermes ( Mercúrio para os romanos ) que traga Psiquê ao Olimpo, onde seria celebrado o casamento da jovem com Eros, e durante o ritual  lhe é oferecido a ambrosia, bebida que a torna imortal, não restando a Afrodite senão concordar com a união e abençoa-la.
Depois de certo tempo, nascia a filha de Eros e Psiquê e lhe deram o nome de Prazer.


O mito de Eros e Psiquê faz uma metáfora da evolução e da transformação individual; simboliza o emergir da consciência ( amadurecimento ) na vida amorosa, a capacidade do indivíduo se relacionar com outra pessoa de forma verdadeira. Amadurecimento não acontece da noite para o dia, este é fruto de um trabalho interior feito em etapas.
Não é por acaso que Psiquê é representada com asas de borboleta, pois antes de ganhar asas coloridas e poder voar, a larva teve que passar um ciclo no casulo até se transformar em borboleta.
Neste mito, Afrodite revela sua face mais severa, impondo à Psiquê tarefas sofridas, perigosas; a deusa do amor envia a mortal para terras e experiências sombrias. Mas é justamente ante adversidades e crises que aprendemos nossas lições de vida. Psiquê  retorna dos desafios cada vez mais sábia, mais preparada. Afrodite dá a matéria prima para a transformação e Psiquê segue usando suas ferramentas internas para lidar com os desafios e se transformar.
No final Afrodite se rende e dá a benção para a união. Amor e Alma estão prontos para se unirem na dimensão divina.


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