domingo, 30 de maio de 2010

Ídolos Não Envelhecem





Todos nós já tivemos um ídolo na nossa infância e/ou adolescência, uma pessoa famosa, que despertasse nossa admiração e até mesmo nossa imaginação. Um ídolo é esse personagem que encarna nossos sonhos, nossas fantasias, uma espécie de modelo idealizado, com o qual nos identificamos, naquela fase de busca da nossa própria identidade. Não estou falando aqui daquela forma fanática de se idolatrar alguem, mas de uma descoberta saudável de personalidades que consideramos modelos.
Essa pessoa ideal pode ser um cantor, uma atriz, um jogador de futebol, dependendo de nossas afinidades.
Crescemos, nos transformamos em adultos, e passamos a maior parte do tempo absortos nas demandas da vida, atravessando os dias com as nossas convicções, a nossa percepção do mundo e, claro, com a nossa identidade já fortemente estabelecida.
Mas fica sempre a lembrança daquela época em que nos espelhávamos naquele ídolo, e quando, volta e meia, nos deparamos com sua figura, é como se o passado e o presente se encontrassem por alguns instantes.

Dias atrás, meu passado e meu presente tiveram um grande encontro. Fomos a um show, eu e meu marido, chamado Troubadour Reunion, no qual Carole King e James Taylor se reunem, cantando as músicas que cantavam juntos no ínico da década de 70, acompanhados da mesma banda da época.



Quando ainda eu era criança, admirava esses dois astros , e embora na época não entendesse o que diziam suas músicas, o som das melodias e a interpretação me tocavam. Com o tempo, já mais crescida e entendendo as letras, eles definitavamente passaram a ser meus ídolos, entre alguns outros.
Meu companheiro de tietagem, por outro lado, passou a gostar da dupla depois de ser exposto, ao longo dos anos, muitas e muitas vezes às mesmas canções, tocadas nos meus CDs, no meu piano, e ultimamente , na poderosa tecnologia dos ipods.
Chegando ao local do show, pudemos observar que a plateia ( inacreditavelmente lotada) era composta por um público da mais variada faixa etária, e predominantemente por aqueles adolescentes do passado. Ao entrar no palco, cada artista tinha duas fotos mostradas numa enorme tela: uma atual e outra de 40 anos atrás. A cada imagem apresentada, era inevitável a onda de risos, assobios e gritos, numa total cumplicidade entre fãs e ídolos.
Sim, o tempo havia passado para todos, e quem se importava?
Mas à medida em que a apresentação transcorria , entre músicas tão queridas e cantadas, entre uma performance e outra, o tempo passou a ser apenas uma contagem inventada. James Taylor, numa entrevista concedida sobre a turnê do show, expressou esse sentimento: "Essa turnê, nossa Troubadour Reunion, esperou muito tempo para acontecer e agora os anos nem parecem ter passado, onde foi parar o tempo? Quando nos juntamos para o aniversário de 50 anos do Troubador ( clube na California, famoso por lançar novos talentos no mercado musical) eu senti como se tivesse sido ontem. Naquela época e ainda hoje tudo gira em torno da música que fizemos juntos".
"O tempo não é um conceito discursivo ou, como se diz, um conceito universal, mas uma forma de intuição sensível" (Immanuel Kant, em Crítica da Razão Pura). Essa afirmação de Kant praticamente traduz o que senti durante a apresentação. A passagem do tempo pode ser linear, e com certeza seus efeitos são sentidos no nosso corpo, mas para o homem o tempo está na sua percepção. Sendo que a nossa essência permanece sempre a mesma , e a percepção do que somos não se altera com a passagem do tempo, envelhecer não é acumular quantidade de dias vividos, tampouco seria a crescente perda da nosa vitalidade. O que seria então? Ah, isso eu não sei responder. Só sei que esses ídolos não envelheceram, pois a essência de cada um deles continuava presente em cada nota musical, em cada entonação, nada mudou.

E penso que para cada homem e cada mulher presentes naquela apresentação, tambem nada mudou, entregues ao mesmo entusiasmo, expresso em cada aplauso e em cada grito. Éramos um coletivo de fãs resgatando um tempo muito especial que passou.

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