A Dança da Grande Deusa
Um dia, veio à corte do príncipe de Birkasha, uma dançarina e seus músicos...E ela foi aceita na corte...E dançou a música da flauta, da cítara e do alaúde.
Ela dançou a dança das chamas e do fogo, a dança das espadas e das lanças; e ela dançou a dança das flores ao vento.
Ao terminar, virou-se para o príncipe e fez uma reverência. Ele então, pediu-lhe que viesse mais perto e perguntou-lhe; “Linda mulher, filha da graça e do encantamento, de onde vem tua arte e como é que comandas todos os elementos em seus ritmos e versos?”
A dançarina aproximou-se, e curvando-se diante do príncipe disse:
“Majestade, respostas eu não tenho às vossas perguntas. Somente isso eu sei: a alma do filósofo vive em sua cabeça, a alma do poeta vive em seu coração, a alma do cantor vive em sua garganta, mas a alma da dançarina habita em todo seu corpo”.
Extraído do livro “ O Viajante” de Khalil Gibran
Assim como a música, a dança me apaixona. Há algum tempo encontrei esse vídeo de ballet flamenco que me deixou fascinada, e me fez recordar da época em que eu frequentava aulas de danças flamencas. Tudo nele transpira sensualidade e paixão. E entenda paixão também como um afinco, uma grande determinação em fazer acontecer.
Mais do que uma arte de movimentar o corpo sob uma cadência de ritmos, a dança é uma das expressões da alma, ou um modo de representar histórias ou sentimentos, pessoais ou de uma cultura. Uma forma de celebrar, ou mesmo um canal de comunicação com o Divino.
É na dança que, muitas vezes, os corpos encontram um pretexto para se tocarem e se conhecerem, num primeiro momento. E, justamente, é mais uma forma, entre tantas, de voltar a sentir o corpo da pessoa amada, de se reconectar a ela.
Mas a dança também tem sua face curativa, que usualmente se mostra quando dançamos para espantar a tristeza. O que pouca gente sabe é que existem terapeutas que utilizam a dança, entre outros movimentos corporais, como recurso para a reabilitação de seus pacientes. Pois a Ciência agora trabalha com o conceito de Corporeidade, cuja idéia básica é de que a Cognição não é um fenômeno localizado na mente e sim algo que acontece na interação entre um ser vivo e o ambiente através de seu corpo.
Empresto do Wikipedia o conceito de Cognição: "é o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, julgamento, imaginação, pensamento e linguagem. A palavra cognição é derivada da palavra latina cognitione, que significa a aquisição de um conhecimento através da percepção."
Toda a atividade cognitiva é iniciada na interação dos nossos cinco sentidos com o mundo que nos cerca, e a partir dessa interação é que se formam os nossos conceitos e simbolismos,o nosso pensar. Compreendida essa premissa, torna-se natural a idéia de que as experiências corporais andam juntas com o desenvolvimento cognitivo. Mente e corpo não são independentes, como prega o cartesianismo (segundo Descartes, a razão seria a única coisa verdadeira da qual se deve partir para alcançar o conhecimento).
Seguindo esse conceito, não há dúvida de que a dança é um canal que leva ao Conhecimento.
Para mim, a dança tem o poder de nos transportar para outro nivel de consciência, como num transe, onde são potencializados os nossos sentidos, onde comungamos com os ritmos e com os sons do mundo. Nesse transe expressamos nossas emoções através de movimentos e revelamos nossa essência. Quando se dança com alguem, sincroniza-se movimento e vibração, numa verdadeira metamorfose de sentimentos e energias.
Fecho meus devaneios sobre a dança com um pensamento de Osho ( filósofo indiano que se tornou um mestre espiritualista):
"A verdade não pode ser definida, embora ela certamente possa ser experienciada.
Mas experiência não é uma definição. Uma definição é feita pela mente, a experiência vem através da participação.
Se alguém pergunta: o que é uma dança? Como você pode defini-la?
Mas você pode dançar e você pode conhecer a sensação interior dela. Deus é a suprema dança."
Imagem obtida no Google
