segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Kibe a la Mil e Uma Noites



"Nesse momento de sua narrativa, Sherezade viu aparecer a manhã e discreta calou-se, sem se aproveitar mais da permissão recebida. Então sua irmã, Doniazad, disse: “Ó minha irmã, como tuas palavras são doces, gentis e saborosas. E Sherazade respondeu: “Mas elas não são verdadeiramente nada se comparadas ao que contarei aos dois, na próxima noite, se contudo eu estiver ainda viva, e se o Sultão houver por bem me preservar!” E o Sultão disse a si próprio: “Por Alá! Eu não a matarei senão depois de ter ouvido o resto do conto!” Depois o Sultão e Sherazade passaram a noite enlaçados."

(Trecho do Livro Mil e Uma Noites)

Mil e Uma Noites é uma coletânea de contos de tradições hindus, persas, sírias e judaicas, preservados oralmente por aqueles povos, através de gerações. No século IX foram reunidos em manuscritos árabes e mais tarde, no século XVIII, trazidos para o Ocidente, numa tradução feita pelo francês Antoine Galland. E tornou-se, assim, um clássico da literatura conhecido mundialmente.

Estórias conhecidas como Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Simbad o Marujo, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa são alguns dos contos presentes na obra, que aliás, não tem uma única versão, já que os antigos manuscritos árabes diferem no número e no conjunto de contos.

O que é invariável nas diferentes versões é que os contos são narrados por Sherazade, numa sequência marcada pelo número de noites.

A estória começa quando Shariar, sultão da Persia, descobre que sua esposa lhe é infiel, dormindo com um escravo cada vez que ele viaja. O sultão, decepcionado e furioso, mata a esposa e o escravo, convencendo-se que nenhuma mulher do mundo é digna de confiança. Decide então que, daquele momento em diante, dormiria com uma virgem diferente a cada noite, mandando sacrifica-la na manhã seguinte, pois desta forma não poderia ser traído nunca mais.
Algum tempo depois, quando o sultão já havia desposado e sacrificado inúmeras moças, espalhando terror em seu país, uma das filhas do vizir, que se chamava Sherazade, pediu para ser entregue como noiva à Shariar, pois sabia de um meio de escapar do mesmo fim que tiveram as moças anteriores, e dessa forma salvar as demais moças que, por infelicidade, viessem a ser desposadas. O vizir apenas aceita depois de muita insistência da filha, levando-a finalmente ao sultão. Antes de ir, Sherazade diz à irmã, Doniazad, que lhe peça que conte uma estória quando for chamada ao palácio do sultão.



Sherazade, ao chegar na presença de Shariar, pede-lhe que permita a vinda de sua irmã, para despedir-se. O sultão o permite, e Doniazad vem ao palácio e instala-se na câmara nupcial. Após Shariar consumar a união com Sherazade, Doniazad pede à irmã que conte uma estória para passar o tempo. Após respeitosamente pedir a permissão do sultão, Sherazade começa a narrar o conto "O Mercador e o Gênio" mas, ao amanhecer, ela interrompe o relato, dizendo que continuará a narrativa na próxima noite. Shariar, curioso com o maravilhoso conto de Sherazade, não ordena sua execução para poder saber o final da estória na noite seguinte. Mas assim que Sherazade termina um conto, emenda imediatamente um novo na sequência. Assim, repetindo essa estratégia, Sherazade consegue sobreviver noite após noite, narrando contos sobre os mais variados temas. Ao fim de mil e uma noites , Shariar, apaixonado e transformado pelo que aprendeu com as estórias, não consegue mais imaginar sua vida sem Sherazade e lhe poupa a vida , fazendo dela sua rainha definitiva.



Para alguns especialistas , as estórias e as fábulas têm poder transformador sobre as pessoas, porque sempre carregam ensinamentos de uma profunda sabedoria, e mesclam conteúdos éticos e educativos, fazendo com que o ouvinte reflita sobre seus atos sem ter que passar por uma confrontação. Sherazade é a figura de uma contadora de estórias, que leva a cura para o sultão pela força da palavra falada.

Mais além desse poder curativo, os contos e lendas nos remetem à um mundo fascinante e longínquo, onde nossa imaginação pode viajar e beber da fonte inesgotável de símbolos e imagens. E em Mil e Uma Noites, a inspiração trazida do Oriente nos coloca em contato com um mundo diferente do Ocidente, muito rico em tradições e simbolismos, que vem nos despertar para a diversidade cultural.

E já que a minha mente, no momento, está entre persas e árabes, viajando em tapete voador por palácios de sultões e odaliscas, aproveito para aterrisar em algo mais real do mundo árabe: a culinária. Diretamente do Oriente para o Ocidente, eis aqui uma receita de Kibe.



KIBE de FORNO





Ingredientes:


- 700gr de carne moída, magra ( patinho ou coxão mole)
- 3 xícaras de trigo para kibe, já hidratado
- 1 maço pequeno de hortelã
-1 maço pequeno de salsinha
- 1 cebola média
- 4 colheres (sopa) de azeite de oliva
- 1 colher (sopa) rasa de Zattar* ( opcional)
- sal e pimenta a gosto ( se tiver disponível, use pimenta síria )


*Zattar- tempero árabe granulado composto por gergelim, coentro, orégano, manjerona e sal refinado

Recheio:
- 300g carne moída
- 1/2 cebola média picada
- 2 colheres(sopa) de salsinha
- 1 pitada de pimenta (síria ou do reino)
- sal a gosto
- 3 colheres (sopa) de azeite de oliva
-1/4 xícara (chá) de castanhas de cajú picadas grosseiramente (ou use pinolis)


Modo de Preparo:
Numa vasilha grande, deixe o trigo de molho em água por 2 horas, para hidratar. Escorra bem a água do trigo e reserve. No multiprocessador ou liquidificador, triture junto a hortelã, a salsinha, a cebola e as 4 colheres de azeite. Misture a carne moída com o trigo, e junte o tempero triturado, o sal e pimenta ( e o Zattar, se desejado) e amasse bem com as mãos, fazendo uma mistura homogênea. Reserve.


Para o recheio, refogue levemente a cebola no azeite e em seguida acrescente a carne moída, e tempere com sal e pimenta. Depois de refogada a carne, acrescente a salsinha, e por último, adicione a castanha de cajú (ou os pinolis).

Montagem: Unte um refratário com azeite e espalhe metade da massa de kibe, de maneira uniforme, e cubra com o recheio de carne moída. Em seguida, cubra com a outra metade da massa de kibe e com a ajuda de uma colher, pressione delicadamente, nivelando a camada. Regue as laterais e a última camada com azeite . Cubra com papel alumínio e leve ao forno pré aquecido, médio alto, por 30 minutos. Retire o papel alumínio deixe assar por mais 10 minutos.

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