sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sobre o Desejo- entre Morangos e Suspiros




Com a proximidade de mais um Dia dos Namorados, impossivel não se pensar sobre o amor e desejo. Embora esses mesmos elementos tenham pesos e significados diferentes para homens e mulheres, é inegavel que estão presentes na vida de cada um.
Jonathan Swift, escritor irlandês que viveu entre os séculos XVII e XVIII, dizia que para o homem, o desejo gera o amor e que para a mulher, o amor gera o desejo. Mas será que isso ainda é válido nos dias atuais de liberdade sexual para ambos homem e mulher? Dificil dizer.

Mas ao falarmos em desejo, contudo,  devemos lembrar que este é um termo que se aplica a outros apetites além do sexual;  inicialmente desejo seria a busca por qualquer prazer que satisfaça os sentidos. Mas segundo o dicionário, desejo é a vontade de possuir ou fazer algo. Podemos desejar um doce, uma viagem, uma música, uma missão...Então o desejo não estaria restrito ao âmbito do sensório, e sim presente na totalidade da vida.
O desejo é um impulso contínuo, infinito, mas o objeto do desejo pode carregar a condição de finitude.

Existe na Mitologia Hindu, um deus chamado Kama, que em sânscrito significa "desejo", conhecido também como Kamadeva , ou ainda como Manmatha ( batedor de corações), entre outros nomes. Kama é o deus do amor e do desejo, equivalente à Cupido da Mitologia Romana ( ou Eros da Mitologia Grega ), que com seu arco florido e cinco flechas floridas envia desejos que fazem o coração estremecer. Por ser o desejo encarnado, Kama governa a Terra e as esferas celestes inferiores.
Originado em Brahma, o criador do Universo e de todas as coisas, Kama é enviado à Terra com a missão de perpetuar todas as formas de vida .

Transcrevo aqui um trecho da narrativa de Heinrich Zimmer* sobre esse mito, publicado na íntegra pelo site http://shakyamuni.net.br/2010/08/28/como-o-desejo-cria-o-mundo/ . Lindo, lindo. Eu não pude encontrar outro conto mitológico que traduzisse tão bem o que é o desejo.

"Brahma, submergindo ainda mais em sua límpida obscuridade interior, atinge uma nova profundidade e de súbito a mais bela mulher de pele escura brotou de sua visão, e ergueu-se desnuda aos olhos de todos.
Era Aurora, radiante e vibrante de juventude. Nada que se lhe assemelhasse jamais seria vista, quer entre os homens quer nas profundezas das águas, nos palácios cravejados de pedras preciosas das rainhas e reis serpentes. (...)
Brahma conscientizou-se de sua presença; elevou-se, abandonando a postura de iogue, fixando nela um longo e intenso olhar. Com os olhos físicos ainda presos nela o Criador permitiu que sua visão espiritual retornasse à sua própria profundidade, onde procurou encontrar – também o fizeram os dez filhos nescidos-da-mente e os dez guardiões das idades, os “Senhores das Criaturas” – a funçao dessa aparição na evolução posterior do trabalho da criação, e a quem pertenceria.
Eis que se deu a segunda surpresa: da indagação interior de Brahma brotou outro ser – desta vez um jovem, esplêndido, escuro e forte. (...)  Exalava um aroma de flores e assemelhava-se a um elefante instigado por veemente desejo. Em uma das mãos trazia um estandarte ornado com um peixe; na outra, um arco florido e cinco floridas flechas. Ao vê-lo, um espanto intrigado assenhoreou-se dos dez filhos nascidos-da-mente e dos dez guardiões do mundo. O desejo começou a formigar neles. Começou a movê-los o secreto e ardente anseio de possuir a mulher. Foi assim que o Desejo apareceu pela primeira vez no mundo. O recém-chegado, encantador, nada intimidado, voltou seu belo rosto para Brahma, curvou-se e perguntou: “Que devo fazer? Por favor, instruí-me. Um ser somente floresce quando executa a tarefa para a qual está destinado. Dai-me um nome apropriado, um lugar para morar e, desde que sois o criador de todas as coisas, uma mulher”.
Brahma permaneceu silencioso por algum tempo, atônito diante da sua própria criação. Que é que emanara dele? O que era isso? Recolheu e subjugou a própria consciência, levando a mente outra vez para o centro. Dominou a surpresa. Novamente senhor de si, o Criador do mundo dirigiu-se à sua notável criatura e designou-lhe o campo de ação.
“Sairás errando pela terra”, disse ele, “enchendo de perplexidade homens e mulheres com teu arco e flechas floridos, assim propiciando a contínua criação do mundo. Nenhum deus nem espírito celestial, demônio ou espírito do mal, divindade-serpente ou duende da natureza, nenhum ~homem ou animal selvagem, criaturas do ar ou do mar, hão de ficar fora do alcance de teus dardos. Nem mesmo eu, ou Vishnu que a tudo impregna, nem mesmo Shiva, o pétreo asceta imóvel imerso em meditação. Nós três estaremos sob teu poder – para não falar de outras existências que respiram. Deverás atingir, imperceptível, o coração, e ali despertar o prazer, provocando a perpétua e renovada criação do mundo vivente. O coração há de ser o alvo de teu arco; tuas flechas levarão alegria e emoção embriagadora a todos os seres que respiram. Essa, portanto, é a tua missão: ela perpetuará o momento da criação do mundo."


*Zimmer foi professor universitário, historiador e estudioso da filosofia, mitologia e arte hindus, falecido em 1944.

E a narrativa segue descrevendo as emoções que o Desejo desperta em todos os seres, não escapando delas sequer Brahma, o Criador. Por essa razão o desejo é chamado de "O Agitador do Espírito".
E esse agitador do espírito entendemos como um fogo que nos move em busca de um amor, de um conhecimento, de uma realização, enfim, a vida flui por esse fogo. É o início de tudo e também a sua permanência. Amém.

Como sempre, muita gente espera que eu poste uma receita que lhes desperte o desejo (ou apetite), então resolvi publicar a receita do Trifle de Morangos e Suspiros, que passou a ser objeto de desejo de alguns, depois de saborearem o doce numa das minhas festas.
Trifle ( pronuncia-se trai-foul ) é uma sobremesa em camadas de origem inglesa, geralmente composta por tiras de  bolo ou biscoitos umidecidos, creme, frutas e chantily.
E para não faltar uma dose de magia, o Morango, em forma de coração e de cor vermelha intensa, é uma "fruta" consagrada à Vênus, deusa romana do amor ( Afrodite para os gregos ). Então vamos ao delírio!

Trifle de Morangos e Suspiros  

-2 caixas pequenas de morangos
-150 gr de suspiros partidos
- 500 ml de creme de leite fresco batido em chantily
-100 gr de biscoitos champagne ou tiras de pão de ló, ou sobras de bolo
-1 1/2 xícaras de calda de frutas vermelhas
-1 lata de Moça Cremoso ( creme a base de leite condensado para recheios e coberturas )
-1 embalagem  de 200 gr de Creme de Leite Leve- Nestlé

Calda de Frutas Vermelhas

- 1 xícara (chá) de framboesas
-1 xícara (chá) de amoras
-1/2 xícara (chá) de açúcar
-1/4 xícara (chá) de água
- suco de 1/2 limão

Numa panela pequena, misture todos os ingredientes e leve ao fogo medio, mexendo até ferver. Retire imediatamente do fogo e deixe esfriar.
Obs.- pode-se usar framboesas e amoras congeladas


Montando o trifle:
Prepare a calda de frutas vermelhas e deixe esfriar.

Lave bem os morangos, seque-os e corte-os ao meio, separando 2 ou 3 inteiros para decorar. Reserve.

Bata o creme de leite com 2 coheres (sopa ) de açúcar e 1 colher (chá) de essência de baunilha. Reserve.

Numa tigela misture o Moça Cremoso com o Creme de Leite Leve, formando um creme homogêneo.
Escolha um recipiente de vidro ou uma taça grande própria para servir trifles. Forre o fundo com o pão de ló, bolo ou biscoito champagnhe. Umideça bem com  metade da calda de frutas vermelhas e reserve a outra metade. Espalhe o creme sobre o bolo umidecido, em seguida espalhe parte dos morangos e suspiros partidos sobre o creme. Por cima dos morangos e suspiros espalhe parte do chantily. Repita a camada de morangos e suspiros, e novamente o chantily sobre os morangos, até terminar os ingredientes. Cuidadosamente, em colheradas, derrame o que sobrou da calda de frutas vermelhas apenas nas laterais da sobremesa. Decore com suspiros e morangos inteiros. Cubra cuidadosamente com papel alumínio e leve ã geladeira por pelo menos 2 horas. Retire da geladeira ( e descubra o papel aluminio) apenas na hora de servir.






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