terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Divindade em Nós




Sempre gostei muito de danças, de ver corpos em movimento, seguindo ritmos e melodias, e de sentir meu próprio corpo desenhando formas no ar, de sentir a música nas minhas entranhas e nela expressar meu estado d'alma. Mas foi assistindo a uma amiga numa pequena mostra de dança do ventre é que compreendi a divindade que existe em nós. Isso aconteceu muito, muito antes da febre dessa dança ter assolado o Brasil , depois da novela O Clone. Muito, muito antes de Shakiras e afins tomarem conta da midia.

Foi num curso sobre os Sete Metais e os Sete Planetas, durante minha formação como terapeuta antroposófica - quem quiser saber sobre Antroposofia o site http://sab.org.br/antrop/antrop.htm explica muito bem sobre o assunto. E já aviso que dança do ventre definitivamente não faz parte do vocabulário de antropósofos tradicionais.
Mas foi justamente numa dessas noites em que o pessoal do curso se reunia depois do jantar para conversar, cantar, tocar instrumentos musicais, enfim, fazer atividades que normalmente a televisão e o computador se incubem de deletar (opa!) de nosso dia a dia , que a minha amiga resolveu mostrar que sabe dançar.

Certamente voces ja presumem que num curso desses a sensibilidade fica mais aguçada. Então imagine o momento em que entra Judith no grande salão, vestida num traje vermelho esvoaçante e dançando ao som de uma música árabe. Depois de passada a surpresa inicial, deixei-me hipnotizar pelos seus movimentos ondulatórios, os quadris marcando o ritmo do Derback numa sucessão de "número oitos" ( lemniscatas ), o ventre desenhando movimentos de serpente e os braços envolvendo um véu. Foi nesse momento que vi não mais minha amiga dançando, mas uma divindade se manifestando para quem estava presente.

Nunca esqueci aquela cena e os sentimentos que me despertaram. A partir daquele momento, eu resolvi que faria aflorar a minha divindade interior, e fui tomar aulas, primeiro de dança do ventre, tempos depois de flamenco, anos mais tarde de dança celta irlandesa. Descobri que , por algum mistério , as danças ao redor do mundo tem movimentos em comum, desenhos com o mesmo significado, realizados de formas diferentes, dependendo da cultura que a originou . Por exemplo o "oito" está presente em todas as danças, e na dança do ventre ele é desenhado com os quadris ou em movimentos com o véu . Ja na dança celta, o corpo fica ereto, e as pernas e, por vezes, os braços desenham esse número em coreografias no espaço. O "oito" (ou lemniscata) está associado ao infinito porque ele não tem começo ou fim mas configura-se numa forma contínua e ininterrupta. Esse significado simbólico do oito o liga ao Arquétipo do Self, que segundo o psicólogo suiço Carl Jung expressa a totalidade, o universo, a plenitude, a comunhão da consciência com o inconsciente, o encontro do humano com o divino. Interessante, não!

É muito provavel que a dança tenha sido a primeira forma que o ser humano encontrou para expressar esteticamente o que conhecia do fluxo da vida e seus mistérios, de modo que as danças eram sagradas para os povos primitivos. Dançar era um modo de se conectar com o Divino.
Hoje, nota-se uma procura muito grande por danças como a do ventre, flamenco, cigana, tribais, ou até mesmo workshops sobre danças circulares sagradas . Talvez tenhamos chegado num ponto da Historia em que a nossa desconexão com a Natureza e com o Sagrado seja tão grande, que dentro de cada um de nós tenha nascido a necessidade de se voltar às raizes, de buscar sentido à nossa existência, e em meio a tantos caminhos como as religiões, estilo de vida, conscientização sobre o futuro do Planeta, a dança seja uma expressão desse nosso retorno às origens.

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